01/12/2024, 0:00 h
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OPINIÃO
Vigorava a ditadura e, na sequência duma longa luta de mulheres e homens antifascistas, surgiu o 25 de Abril. Foi um momento único na nossa História, com o Povo nas ruas a aplaudir os militares que tiveram a ousadia e a coragem de enfrentar os poderes dissolutos do fascismo, os guardadores das falsas virtudes e limitadores das liberdades. E entre a proclamação de frases mobilizadoras como “Viva a Liberdade!” e “A Vitória é difícil, mas é nossa”, o Povo afirmava-se como um todo, como alguém com direito a decidir o seu próprio destino.
Pela primeira vez, após um longa e penosa espera, a Esperança voltava a fazer sentido para as pessoas deste país sombrio e amordaçado, agora libertas dum Salazar defunto e dum Caetano prestes a ser exilado. Naquele Dia não assistimos a discursos de políticos não eleitos nem a paradas militares encomendadas por governantes, mas a um inesperado e lindo gesto que viria revelar-se de extremo simbolismo para a Revolução: Celeste Caeiro pegou num cravo vermelho e colocou-o no cano da espingarda dum soldado, selando, com a sua ingenuidade, uma forte aliança do Povo com o MFA.
Passaram cinquenta anos e, nos grandes meios de comunicação social, elevam-se as vozes dos que querem e vão celebrar o 25 de Novembro de 1975 na casa da democracia portuguesa. Por outro lado, é em letras pequenas que nas páginas interiores de alguns jornais surge a notícia do falecimento da famosa mulher dos cravos vermelhos, que deram cor à Revolução. Não teve honras de Estado, nem discursos, nem lápides para lhe eternizar o nome.
Cá por fora, ou melhor, lá dentro, na Assembleia da República, prosseguem os preparativos para a tal celebração. Não vou discutir o mérito ou o demérito das movimentações militares nesta data, mas equiparar tal evento à verdadeira Revolução é desviar a atenção do que realmente importa, é lançar um escarro sobre o 25 de Abril e tudo o que representa.
Temo que a coincidência da morte de Celeste Caeiro com os festejos que se avizinham simbolize o princípio do fim da Esperança que Abril nos deu.
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