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Gazeta Paços de Ferreira

21/02/2025, 0:00 h

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REYMONDA - OS PÉS DAS PEGADAS - VIII

Freguesias Raimonda

FREGUESIAS

Processo de Assalariamento da mão de obra

Foto de arquivo

 

Foi através dos ramos de actividade referidos que a mão de obra local se retirou, de forma progressiva, da actividade agrícola. Certo é que, já em 1951, mais de metade dos chefes de família se encontravam no exercício de actividade noutro sector. Acontece que as origens deste processo remetem para momento anterior e, por outro lado, permitem pensar que, para boa parte dos novos activos, já não foi de transferência que se tratou. Trata-se sim dum movimento, antigo e localmente apoiado, da desvinculação agrícola que, no decurso dos anos 60 e 70, acelerou pelo recurso directo à emigração. 

 

A transição para a situação de assalariamento da mão de obra, na indústria e serviços, fez-se de forma lenta, desigual e, em não poucos casos, foi provisória. Entretanto, um bom número de activos, de modo informal ou pela criação de pequenas unidades em nome individual - familiares e artesanais - constituiam-se em trabalhadores por conta própria. Neste processo de transição e em termos de dominância, terão ocorrido duas modalidades. Uma, dá-se pela via dos ramos tradicionais, de natureza familiar e artesanal, antes referidos. Terá sido a mais antiga e lenta, bem integrada localmente, convivendo com fortes ligações à agricultura. A outra, deu-se com base na indústria têxtil, na confecção e vestuário, na madeira e  mobiliário de segunda geração, mas também e de forma particularmente relevante, pela emigração. Em qualquer dos casos, implicou a procura de espaços alternativos, não coincidentes com os de residência e terá exigido um particular esforço de adaptação às novas condições de trabalho. 

 

 

 

 

O contraste da distribuição, por ramos de actividade, da população activa, em 1970, entre o concelho e a freguesia da Raimonda - tendo em conta, para esta, os chefes de família - revela uma coincidência total, quanto aos ramos do secundário, que mais mão de obra empregavam. A disparidade mais notória ocorria no peso relativo e na ordenação dos ramos que concentravam maior volume de emprego. Para o concelho, com 62% dos activos no secundário, dominava o da madeira/mobiliário. Para a freguesia, era o da construção e obras públicas, com 36% dos chefes de família. Este último representava, no concelho, 16%, enquanto o da madeira/mobiliário rondava os 21%, na freguesia. A ordenação dos outros ramos era coincidente e os respectivos pesos relativos muito próximos. Com base numa abordagem mais abrangente, em tempo e espaço, o que se expressa é uma dinâmica do conjunto, em que a freguesia se vai integrando mais lentamente. De facto, desde meados do século, também à escala do concelho o emprego na construção civil foi diminuindo, na justa medida em que crescia nas outras indústrias transformadoras. Outrotanto, no que respeita ao ramo da madeira/mobiliário, no sentido em que o seu volume de emprego cresce à custa do esvaziamento do da carpintaria e tamancaria.

 

Esta distribuição do emprego ter-se-á mantido até bem perto do fim do século. No terminus da década de 80, o têxtil/confecção com a  madeira/mobiliário concentravam perto de 80% de emprego no secundário. No total, estava vinculada a este sector 90% da mão de obra activa. A variante da confecção, por relação ao têxtil, representa 80% do emprego neste grupo, em que a mão de obra é quase exclusivamente feminina, ao passo que a masculina se ocupa na fiação e tecelagem. No ramo da madeira/mobiliário, cuja figura central fora o marceneiro indiferenciado - agora com trabalho em fábrica - assiste-se progressivamente à fragmentação do processo de trabalho, com tradução em alguma especialização, derivada da introdução de matérias primas alternativas, de novos equipamentos e ferramentas. Outro tanto acontece na construção civil, com o incremento de novos perfis profissionais e a consequente desvalorização da figura do pedreiro, aqui também em função dos novos e diversos materiais construtivos, a disponibilade de  maquinaria alternativa e de factores inovadores de natureza  tecnológica.

 

É a nível do terciário que, à escala da freguesia e no decurso dos anos 70 e 80, se assiste às transformações mais evidentes. O facto com maior impacto consiste no grande incremento do emprego no ramo do Comércio e da Distribuição, de par com o declínio muito acentuado no dos Transportes e Serviços correlativos. Em 1971, esta perda vai até perto dos 30 pontos percentuais, enquanto os ganhos, no primeiro, é da ordem dos 26. Também relevante é o montante dos que se dizem comerciantes, cuja representação é de 37,7% dos activos no terciário. O grande acréscimo nesta categoria terá, sem dúvida, contribuído para a inversão no peso de cada um dos ramos, o que deve atribuir-se também à grande diminuição da categoria dos motoristas.

 

Pensamos que a compreensão desta evolução apela à consideração da natureza e pequena dimensão das unidades do comércio e indústria que se foram instalando. Somos levados a admitir que tanto industriais como comerciantes chamaram a si, de forma cumulativa, o exercício de actividades diversas, no âmbito das suas empresas. Isso terá acontecido com a função de motorista que se torna diminuta e ajuda a explicar a sua pouca importância de emprego terciário no comércio e indústria. Por si ou por incorporação de mão de obra familiar, não contabilizada, pelo recurso a  empresas especializadas ou pelo apoio pontual de prestadores individuais e externos de serviços, os responsáveis das empresas asseguraram as tarefas de administração, de contabilidade, escrituração e gestão corrente, que não dominavam.

 

Quanto aos outros ramos do terciário - com excepção do dos Serviços à Comunidade - todos viram, ainda que ligeiramente,  melhorado o seu peso relativo no sector. A menor expressão dos serviços à comunidade terá resultado da transformação das formas individualizadas e tradicionais da prestação, em unidades comerciais. Por outro lado, era diminuta a contribuição pública na prestação de serviços pessoais e sociais, com escassa implantação local, provimento inconsequente dos operadores e a concentração de unidades na sede do concelho, com acesso prejudicado pelas deslocações que implicava.

 

Por Miguel Meireles

 

 

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