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Gazeta Paços de Ferreira

18/10/2021, 0:00 h

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Que geração estamos a criar?

Educação

Sentimos na escola que as crianças têm uma necessidade imensa de falar. Este ano estou a lecionar uma turma de primeiro ano e posso confirmar que os miúdos estão ávidos de comunicação, talvez também em virtude de terem tido dois anos atípicos com a pandemia.

Que geração estamos a criar?

Ouvimos cada vez mais que as nossas crianças são todas tecnológicas. Se isso tem um lado positivo, também tem outro que poderá ser pouco benéfico. Ainda hoje falávamos entre docentes e alguns técnicos especializados que as crianças cada vez mais ocupam o tempo em telemóveis e tabletes. Na realidade basta sair e ir a um simples restaurante e observar famílias com filhotes à mesa. É comum a maioria dos pequenotes estarem entretidos a jogar ou a assistir vídeos como forma de estarem caladinhos e quietinhos. A questão que se coloca é a falta de comunicação que existe entre progenitores e filhotes. Sabemos que é pela interação que se desenvolve a linguagem, que se enriquece o vocabulário e que se adquirem técnicas comunicativas. Ora, se cada vez há menos interação entre crianças e adultos, a própria capacidade discursiva pode ficar comprometida.

Sentimos na escola que as crianças têm uma necessidade imensa de falar. Este ano estou a lecionar uma turma de primeiro ano e posso confirmar que os miúdos estão ávidos de comunicação, talvez também em virtude de terem tido dois anos atípicos com a pandemia.

Não é uma opinião só minha, mas também dos meus colegas que têm primeiro ano, que sentem que os miúdos são bastante ativos, mexidos e faladores. Uma explicação pode ser, de facto, que a escola acaba por ser o espaço onde passam mais tempo e onde têm muitos para lhes dar atenção, para os ouvir, sejam colegas, professores ou auxiliares. Talvez seja porque os pais infelizmente chegam a casa cansados, têm um rol de tarefas para fazer e os entretêm com as tecnologias. Talvez seja porque há pouco tempo para se falar…

Talvez seja porque achamos que as tecnologias atraem os miúdos e de facto atraem. Mas, será que eles não são atraídos por outras coisas?

Hoje faço esta reflexão porque um grupo de crianças do Pré-Escolar do Centro Escolar de Frazão participou numa desfolhada e posso-vos dizer que o entusiasmo deles era imenso, talvez maior do que se vê quando estão perante os meios tecnológicos.

O que penso é que deveríamos regressar um pouco às nossas origens, proporcionar aos nossos alunos e aos nossos filhos experiências diferentes em que a socialização fosse um enfoque. Tantas atividades tradicionais que os nossos pequenos valorizariam se tivessem oportunidade de as viver.

Este é o desafio que eu penso que as famílias, as escolas, as entidades locais devem colocar em cima da mesa e pensar em criar as situações, promover a nossa cultura, as nossas tradições, e a socialização que é tão importante. Temos que retirar os nossos pequenos da vida virtual em que somos muitos, mas estamos sós. Até nós adultos vivemos nessa ilusão também…

Temos que fazer algo por esta geração…senão, que futura geração teremos?

 

Rosário Rocha, professora do AE Frazão

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