Por
Gazeta Paços de Ferreira

04/05/2024, 0:00 h

270

“Qual foi o crime do padre vermelho?”

Cultura Opinião Abílio Travessas

CULTURA

A propósito de uma entrevista do padre José Martins Júnior a António Marujo, coordenador do programa 7 Margens, na RDP 1.

Por Abílio Travessas (Colunista e Professor aposentado)

CULTURA

 

 

António Marujo é um dos melhores jornalistas na área da realidade religiosa e o seu programa vale a pena, mesmo passando a horas tardias, de sexta para sábado. A entrevista com o padre Martins Júnior, padre que o jornalista-investigador (espécime em desaparecimento acelerado) Ribeiro Cardoso, recentemente falecido e de quem fui amigo desde os anos sessenta, bem caracteriza no livro Jardim, a grande fraude. Capítulo: Machico, para nunca esquecer – O caso do padre Martins, que deu muito brado no Continente logo depois de Abril, constitui um vergonhoso e inadmissível episódio da história recente da Madeira, envolvendo em simultâneo, e pelos piores motivos, o poder político e o poder religioso, simbolizados por Jardim e D. Francisco Santana.

 

 

“Na Ribeira Brava, Machico, o padre Martins, antes e depois do 25 de Abril, desenvolveu um trabalho a todos os títulos notável, vivendo em comunhão plena com o seu povo – o que não impediu que o bispo D. Francisco o suspendesse “a divinis” e os outros dois bispos que se lhe seguiram o tivessem mantido nessa situação. Nomeado presidente da Câmara do Machico, primeiro, e eleito depois, pela UDP, deputado à Assembleia Legislativa Regional, foi perseguido pelo poder político e pela própria Igreja, que o quiseram abater a todo o custo. Receavam que o seu exemplo frutificasse.”

 

 

ASSINE A GAZETA DE PAÇOS DE FERREIRA

 

 

O 1º de Dezembro era comemorado na Sé Catedral do Funchal e um padre fazia a oração de sapiência a elogiar Salazar. O padre Martins foi o orador de serviço e falou do “nosso Cristo que não precisa de adoradores em almofadas vermelhas”; foi “desterrado” para Porto Santo onde ajudou a criar um grupo de música de inspiração popular e um rancho folclórico.

 

 

Do Porto Santo o norte de Moçambique foi o destino como capelão militar, mancha que considera a maior da sua vida, testemunhando a atrocidade da guerra: “vi panelas ainda ao lume, as pessoas tinham fugido abandonando as cubatas de tecto de colmo incendiadas; vi crucifixos de pau preto no chão e o evangelho bilingue, maconde e português – afinal eram católicos, cristãos, irmãos meus que eram mortos.

 

 

Regressa para a Ribeira Seca, Machico, queria servir aquele povo. Era uma segunda África, sem estradas, sem luz elétrica. Chamado a lugar inóspito viu, numa casa, uma jovem mãe a esvair-se em sangue com dois filhos ao lado e sem poder fazer nada para a salvar.

 

 

Há muito mais sobre esta entrevista ao “padre vermelho” de que darei conta na próxima crónica.

 

 

 

 

Opinião

Opinião

Cascas de banana…

17/08/2025

Opinião

De tostão em tostão… se alcança o milhão ou a dimensão colectiva dos direitos do consumidor

13/08/2025

Opinião

A Bolsa de Valores

11/08/2025

Opinião

Gastroparésia: Quando o estômago perde o ritmo

10/08/2025