04/05/2024, 0:00 h
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Cultura Opinião Abílio Travessas
CULTURA
Por Abílio Travessas (Colunista e Professor aposentado)
CULTURA
António Marujo é um dos melhores jornalistas na área da realidade religiosa e o seu programa vale a pena, mesmo passando a horas tardias, de sexta para sábado. A entrevista com o padre Martins Júnior, padre que o jornalista-investigador (espécime em desaparecimento acelerado) Ribeiro Cardoso, recentemente falecido e de quem fui amigo desde os anos sessenta, bem caracteriza no livro Jardim, a grande fraude. Capítulo: Machico, para nunca esquecer – O caso do padre Martins, que deu muito brado no Continente logo depois de Abril, constitui um vergonhoso e inadmissível episódio da história recente da Madeira, envolvendo em simultâneo, e pelos piores motivos, o poder político e o poder religioso, simbolizados por Jardim e D. Francisco Santana.
“Na Ribeira Brava, Machico, o padre Martins, antes e depois do 25 de Abril, desenvolveu um trabalho a todos os títulos notável, vivendo em comunhão plena com o seu povo – o que não impediu que o bispo D. Francisco o suspendesse “a divinis” e os outros dois bispos que se lhe seguiram o tivessem mantido nessa situação. Nomeado presidente da Câmara do Machico, primeiro, e eleito depois, pela UDP, deputado à Assembleia Legislativa Regional, foi perseguido pelo poder político e pela própria Igreja, que o quiseram abater a todo o custo. Receavam que o seu exemplo frutificasse.”
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O 1º de Dezembro era comemorado na Sé Catedral do Funchal e um padre fazia a oração de sapiência a elogiar Salazar. O padre Martins foi o orador de serviço e falou do “nosso Cristo que não precisa de adoradores em almofadas vermelhas”; foi “desterrado” para Porto Santo onde ajudou a criar um grupo de música de inspiração popular e um rancho folclórico.
Do Porto Santo o norte de Moçambique foi o destino como capelão militar, mancha que considera a maior da sua vida, testemunhando a atrocidade da guerra: “vi panelas ainda ao lume, as pessoas tinham fugido abandonando as cubatas de tecto de colmo incendiadas; vi crucifixos de pau preto no chão e o evangelho bilingue, maconde e português – afinal eram católicos, cristãos, irmãos meus que eram mortos.
Regressa para a Ribeira Seca, Machico, queria servir aquele povo. Era uma segunda África, sem estradas, sem luz elétrica. Chamado a lugar inóspito viu, numa casa, uma jovem mãe a esvair-se em sangue com dois filhos ao lado e sem poder fazer nada para a salvar.
Há muito mais sobre esta entrevista ao “padre vermelho” de que darei conta na próxima crónica.
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