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Gazeta Paços de Ferreira

22/01/2024, 0:00 h

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Opinião contraditória?

Educação Opinião ROSÁRIO ROCHA

EDUCAÇÃO

Acho que devemos preparar os alunos para o futuro, e ele passa pelo bom uso da tecnologia e pelas vantagens que pode trazer, mas não podemos descurar a outra parte, não tanto a livresca, mas a de contexto real, a que se faz mexendo, vendo e explorando. São essas aprendizagens que permitirão que as crianças se tornem adaptáveis a várias situações. É o saber, mas o saber fazendo, não decorando.

Por Rosário Rocha (Professora do AE Frazão)

COMENTÁRIO EDUCAÇÃO

 

 

Na última edição escrevi sobre uma plataforma digital que me tem cativado. Já escrevi também sobre a era digital que o próprio Ministério nos tenta impingir à força, demonstrando que não sou muito favorável à questão. Então, poderão considerar que sou contraditória nas minhas opiniões?

 

 

Agarrados ao ecrã

 

 

Muito se tem falado numa reportagem que passou há pouco tempo sobre miúdos agarrados ao ecrã, nomeadamente ao telemóvel ou às tabletes. Ora, não precisávamos assistir à referida reportagem, basta olharmos à nossa volta e analisarmos o que se passa. Seja no café, no restaurante, ou em qualquer espaço público onde haja algum aglomerado de pessoas, vemos crianças e adultos agarrados ao ecrã. No caso dos adultos, o telemóvel permite-lhes estar ligados ao mundo a qualquer momento. É fácil resolver problemas laborais ou situações de gestão do dia-a-dia, como, por exemplo, pagar contas. Enquanto isso, também os pequenotes estão ocupados, sem interromper os inúmeros afazeres dos adultos.

 

 

Consequências mais visíveis

 

 

Um dos grandes problemas é a falta de socialização, seja nos adultos, seja nas crianças. Mas, centrando-nos nas crianças, a maior parte das aprendizagens faz-se através da socialização. É, também por esse motivo, que a frequência da Educação Pré- Escolar é tão importante e deveria ser obrigatória desde os 3 anos. As crianças regulam comportamentos através das interações com os pares e aprendem em conjunto regras sociais e individuais. Cada vez mais se sente dificuldades nas interações infantis e a adaptação nem sempre é fácil, principalmente na hora da refeição, pois muitas crianças estão habituadas a ter a companhia do ecrã enquanto comem.

 

 

Também as crianças mais velhas, do 1º ciclo, nem sempre sabem brincar.

 

 

Mas pergunto-me eu: será que os pais querem que eles brinquem?

 

 

Certamente os meus colegas já viveram algumas situações como eu, em que são questionados constantemente pelos pais o que se passou na escola porque os miúdos chegam todos sujos, ou molhados, ou arranhados, vítimas muitas vezes de bullying. E porquê? Ora porque um simples jogo de futebol, ou uma corrida à apanhada causa imensos conflitos. Cortar uma bola em que há um toque no pé do colega ou na apanhada rasgar a camisola do colega ou arranhá-lo passa a ser visto como agressão. Os miúdos são muito especiais para os seus pais, são únicos, mas não são de “vidro”, não são “bibelôs”.

 

 

Saber brincar hoje é uma missão quase impossível, mas é tão importante que se faça no coletivo!

 

 

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Então, a favor ou contra a tecnologia?

 

 

Haja bom senso e bom uso. A nível particular, no tempo com as famílias, haja controlo parental e uma gestão do uso conforme a idade. Custa-me saber que miúdos de 8 anos (tenho 3º ano), tenham passes de todos os jogos e mais alguns e conheçam youtubers melhor que o vizinho do lado.

 

 

Os pais são responsáveis e podem ser responsabilizados pelo mau uso que os filhos fazem da tecnologia. Compete aos pais a supervisão e a monitorização dos acessos das crianças.

 

 

Tecnologia ao serviço da aprendizagem

 

 

Sou completamente contra a aprendizagem baseada na tecnologia. Pessoalmente já sou contra os manuais em papel, que provocam alguma rigidez na abordagem dos conteúdos, mas não apoio de todo os manuais digitais. Tudo bem, ecologia, poupança e afins, mas… principalmente nas idades mais tenras (e vou situar pelo menos até ao 9º ano) há que haver o manuseamento de material palpável. É importantíssimo o desenvolvimento da motricidade fina, do rabiscar, do pintar, recortar, do simples folhear, e por aí fora.

 

 

Não obstante o que referi anteriormente, o uso da tecnologia pode ser um complemento. E, quer queiramos, quer não, o seu domínio facilita bastante o dia-a-dia e nós enquanto adultos sabemos como nos poupa tempo fazer um pagamento a partir de casa, ou comprar algo sem perder tempo em lojas e filas.

 

 

A nível educativo, o uso específico (supervisionado e orientado) de determinadas aplicações ou plataformas digitais potencia a aprendizagem. Dou-vos um exemplo prático. Vamos ensinar itinerários aos alunos. Podemos fazê-lo usando mapas em papel, mas será que usando o Google Earth, não se tornará mais atrativo e enriquecedor?

 

 

Mas vou-vos dizer o que é que ainda acho mais enriquecedor, para a mesma situação: sair dos portões da escola e aprender cá fora! Mas esse caminho ainda é longo…e não colhe muitos adeptos.

 

 

Resumindo: não considero que seja contraditória nas opiniões que defendo. Acho que devemos preparar os alunos para o futuro, e ele passa pelo bom uso da tecnologia e pelas vantagens que pode trazer, mas não podemos descurar a outra parte, não tanto a livresca, mas a de contexto real, a que se faz mexendo, vendo e explorando. São essas aprendizagens que permitirão que as crianças se tornem adaptáveis a várias situações. É o saber, mas o saber fazendo, não decorando.

 

 

 

 

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