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Gazeta Paços de Ferreira

30/12/2023, 0:00 h

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Obdulio Varela e a garra charrua

Desporto Opinião Comentário Desportivo Abílio Travessas

DESPORTO

A propósito da morte de Ghiggia nos 65 anos do maracanazo.

Por Abílio Travessas (Colunista e Professor aposentado)

COMENTÁRIO DESPORTIVO

 

 

Na Feira da Ladra comprei uns quadrinhos e num deles, de Debret, um índio charrua retesava, deitado, o arco com os pés. Os charruas eram caçadores, recolectores e pescadores e habitaram as margens do Rio Negro e as costas do Plata, rio descoberto, pelos portugueses em 1512 (mais provavelmente em 1514); em 1516, Juan Diaz de Solis, piloto português ao serviço dos espanhóis, foi morto por índios, provavelmente charruas.

Antonio Pigafetta, cronista da viagem de Magalhães em demanda das Ilhas das Especiarias, refere-se aos Patagões que, pensa-se, seriam charruas, que não eram antropófagos, ao contrário dos guaranis.

 

 

Os charruas foram exterminados, etnocídio completado nos anos trinta do século 19, sucumbindo à desculturação, perda de território de caça para os latifundiários brancos, enfermidades infecciosas – varíola e sarampo – e enfrentamento violento com o exército uruguaio na batalha de Salsipuedes. Todo um programa de extermínio do índio, uma forma de barbárie que impedia o progresso do país que nascia. E, nota final, os jesuítas nunca os conseguiram catequizar!

 

 

A selecção uruguaia de futebol, a celeste, reivindica a garra charrua e teve a sua máxima glória na conquista do Mundial de 1950, no Brasil. A derrota do Brasil, contra todas as previsões, o Maracanazo, por 2-1, teve em Obdulio Varela, El Negro Jefe, capitão e jogador emblemático. Não sendo um tecnicista impunha-se pela presença em campo, um líder que conseguiu o impossível.

 

 

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A lenda uruguaia simbolizava a garra charrua e ficaram para a história algumas pérolas: no túnel de acesso ao relvado do Maracanã, cheio de 203 850 espectadores oficiais não contabilizando as borlas, Obdulio levantou o ânimo dos companheiros – No piensen en toda essa gente, no mirem para arriba, el partido se juega abajo…No campo seremos once para once!; ao Brasil bastava um empate, tinha cilindrado suecos e espanhóis por 7-1 e 6-1 e, quando marcou o golo ainda na 1ª parte, Obdulio, para acalmar a equipa e o ímpeto atacante adversário, parou o jogo por dois longos minutos, segurando a bola debaixo do braço, reclamando com o árbitro inglês um alegado fora de jogo de Friaça, pedindo mesmo intérprete.

 

 

Ghiggia, marcador do 2º golo aos 79 minutos vangloriava-se de que só três pessoas tinham conseguido fazer calar o Maracanã: o Papa, Frank Sinatra e ele. Morreu no dia em que se cumpriam 65 anos do Maracanazo.

 

 

Após o jogo Varela saiu pelas ruas de Copacabana e bebeu, anonimamente, cerveja com os brasileiros, testemunhando a sua dor. Afirmaria que, depois de ver a tragédia que a derrota tinha significado para o povo brasileiro, não se teria esforçado tanto para ganhar. Para além do mais, só os cartolas uruguaios lucraram com o título. Contava Ghiggia que após a partida o tesoureiro da delegação desaparecera e os jogadores tiveram de juntar o pouco dinheiro que tinham consigo para arranjar sandes e cervejas para comemorar.

 

 

Um digno representante da garra charrua é Maxi Pereira, algumas vezes exagerando na impetuosidade com que aborda os lances, mas que rapidamente cai no goto dos adeptos das suas equipas, dada a entrega generosa ao jogo.

 

 

 

 

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