14/12/2024, 0:00 h
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Cultura Opinião Abílio Travessas
CULTURA
Por Abílio Travessas (Colunista e Professor aposentado)
Interrogo-me: quanto tempo ainda? Chegado aos oitenta as memórias continuam, umas mais vivas, outras diluindo-se neste outono da vida como escreveu o mestre Aquilino Ribeiro. O que fica do que esquecemos, ad perpetuam memoriae?
Para lá da família, que se começou a futurar numa noite de cinema no vestíbulo do velho Avenida, sempre o cinema a marcar-nos o devir, o que aparece, o que me marca desde a infância?
Privilegio o futebol, presente obsessivamente nas páginas do Primeiro de Janeiro, lido diariamente na mesa a ocupar os fundos da loja, os relatos dos jogos do domingo às três em ponto da tarde. As amizades, que o futebol nos traz, são únicas, singulares, o que seria eu sem elas? Guardo-as no fundo do coração, porque memorizamos o que nos interessa, o que amamos.
A história do futebol poder-se-ia fazer com a bola e a sua evolução; para mim, começou com a de trapos e a técnica, que se foi apurando ao fazê-las, ainda me resta o som do impacto do chuto, som singular que trago comigo; a de borracha/cautcu era propriedade dos mais abonados, que a disponibilizavam para jogatanas intermináveis no terreiro da igreja; a primeira cabeçada numa bola de capão, o picheril resguardado com pedacinho de couro, de más recordações, não impediu o prazer futuro do jogo de cabeça. Mais tarde, já nos pelados, nos juniores do Varzim, o confronto com as bolas de relvado no campo de treinos do FCPorto.
Chegado a Coimbra, campeonato universitário, encontro que ficou gravado: o GR equipava a rigor, físico adequado, só que… Anos depois, muitos anos mesmo, o GR, de quem nunca esqueci a imagem, o nome e percurso profissional exemplar, participava no encontro poveiro de escritores de expressão ibérica – Correntes d’escrita. Houve que ultrapassar hesitações e … És o Travessa! Memória de elefante, assegurou poveiro, que bem conhecia Laborinho Lúcio.
Uma época, sonho concretizado na AAC, glória maior a suplente de Viegas, vitória nas Antas, equipa das melhores que a Briosa teve, épocas de ouro na década de sessenta.
Depois, no regresso às balizas, o CFUC – Club de Futebol União de Coimbra – e um mundo de vivências tão diferentes.
O regresso das artes da guerra trouxe-me, após Abril, o encontro que me rejuvenesceu com a refundação da Secção de Futebol da AAC. Novos amigos, novas experiências… Arouca ficou como a primeira viagem, saudoso Prof José Falcão a comandar.
Outras se seguiram até à inscrição no campeonato distrital de Coimbra, começando pela divisão mais básica.
Serão estórias que todos temos para contar, mesmo que repetidas, agora que o tempo continua a perguntar ao tempo, quanto tempo ainda temos…
Teremos o suficiente para recordarmos amigos, que não se perdem e que se vão encontrar.
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