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Gazeta Paços de Ferreira

11/09/2022, 0:00 h

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O SEGREDO

Destaque

O segredo? Somos grandes produtores de feijão, o que deu aos governantes a ideia de engarrafarmos traques ao longo do dia depois de cada refeição, obtendo, por essa via, a anulação das dependências externas de energia. É assim que se faz.

É muito simples, proclamou o iluminado: atira-se a Rússia contra a Ucrânia e, em poucos meses, acabam-se-lhe as munições, o ânimo e as forças, o que a tornará, como tantas outras nações, dócil e submissa. Simultaneamente, embarga-se a venda de combustíveis e cereais para lhe asfixiar a economia. Vão ver que ela acabará por se ajoelhar perante quem manda e se arrependerá de ter um dia ousado armar-se em grande, porque grande é Alá, e nem esse é respeitado em todo o lado.

Por cá não há crise. Arranja-se de tudo desde que se esteja disposto a pagar o triplo, o que pouco importa, porque o que paga é o dinheiro e isso é algo que não nos falta.

É claro que o facto de os malandros se terem adiantado, cortando-nos o abastecimento de gás, dando a ideia que dispensavam aquele dinheirinho (como se não precisassem dele como de pão para a boca) belisca-nos, admito.

Não há dúvida de que andaram a estudar a nossa História e decidiram imitar aquela gente que, tendo a cidade cercada, atirou bois inteiros ao inimigo, a dar a ideia que lhe sobrava a carne. Mas nós não vamos na cantiga, e seguimos com o plano sem pestanejar.

Vai faltar-nos gás para o aquecimento? No monte há imensa lenha, fazemos fogueiras, o que até tem a vantagem de reduzir os incêndios.

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O importante é que os nossos amigos do centro e norte da Europa não passem frio. Coitadinhos! Estão tão acostumados ao conforto no interior das suas casas, que não os podemos submeter a tal sacrifício. Quanto a nós, habituados, como estamos, a casas onde se bate o dente e se morre asfixiado com o fumo das lareiras, dispensamos mordomias.

São os rigores da vida que nos tornam fortes. Não foi com roupinhas fofas que se moldaram os descobridores dos caminhos marítimos, nem os troianos que dominaram a Grécia.

Estamos à vontade. Amigos é que não nos faltam, graças a Deus!

Ao perto, contamos com a EU, que nos assegura que tudo vai melhorar, e ao longe, os Estados Unidos confirmam a parte que diz que nada nos faltará.

E, como sabem, essa gente não jura falso, não mente.

Na invasão do Iraque, por exemplo, mentes perversas puseram em causa a sua honestidade por afirmarem que os iraquianos dispunham de armas químicas. Todavia, como se viu, comprovou-se tudo, e um exemplo basta para que dúvidas não restem: durante a execução de Sadam Hussein, um intenso mau cheiro impregnou o ar, e, se não foi das bufas do condenado, só podia ser dos gases químicos que se armazenavam ali por perto.

Por cá, estamos bem, repito: o preço dos combustíveis reduziu que foi um gosto, e já se troca uma botija de gás por um cartucho de castanhas mixurucas.

O segredo? Somos grandes produtores de feijão, o que deu aos governantes a ideia de engarrafarmos traques ao longo do dia depois de cada refeição, obtendo, por essa via, a anulação das dependências externas de energia. É assim que se faz.

Joaquim António Leal

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