19/10/2023, 0:00 h
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OPINIÃO
Por Ricardo Jorge Neto
OPINIÃO
Ensinei o meu filho a cumprimentar todas as pessoas, não só para seguir as regras da boa educação, mas também para cultivar o valor da humanidade, bem necessário num mundo em que as pessoas vivem de cabeça para baixo, sem tempo para retirar os olhos dos telefones para saudações.
E foi este o argumento, que me ajudou a dissuadi-lo a irmos para uma máquina ‘self-service’ numa loja, onde o cliente toma o lugar de funcionário de caixa. Respondi que ali, ele não teria ninguém com quem conversar, e isso bastou para ele desistir do pedido.
Contudo, a desumanização desta investida do comércio não é a grande responsável desta minha relutância e resistência a estas máquinas.
Antigamente, os lavadouros públicos eram excelentes locais de humanização! Um pouco de conversa, enquanto se esfregavam umas ceroulas, era uma excelente terapia, para além dum óptimo meio de obtenção de novidades, numa era em que não existiam redes sociais.
Mas a máquina de lavar surgiu, e os lavadouros foram quase à ‘falência’, apesar de ainda se lavar muita roupa suja em público…
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A eliminação do esforço humano, na lavagem de roupa, justificou a transição.
Ao contrário das máquinas de auto-atendimento, onde o esforço físico, ao registar dos produtos, continua bem presente.
Na equação, apenas foi subtraído o ser humano, que nos cumprimentava, e que, com um pouco de sorte, nos sorria e perguntava pela família, e em seu lugar, adicionou-se um cliente distraído, que assume o seu trabalho e o seu esforço físico… com a diferença de não ser pago por isso!
Poderão dizer que estou a fazer mal as contas, e que a subtracção do trabalhador deu lugar a um atendimento mais rápido, e a uma redução de preços!
Mas a verdade, é que os custos dos produtos têm aumentado ao mesmo ritmo, a que galopam os lucros dessas empresas… e, quanto à velocidade de atendimento, já presenciei longas filas para as caixas automáticas, onde clientes, sem a formação dum operário experimentado, se perdem na aventura do registo e do embaraço, durante longos minutos de nervosismo, enquanto os restantes clientes lançam olhares intimidadores sobre quem não é suficientemente veloz na arte do picar!
O problema desta ilusão, que nos tentam impor, é que, aqui, não estamos perante uma evolução tecnológica, como foi a Via Verde ou a máquina de lavar.
Nestas máquinas registadoras self-service, assim chamadas com nome inglês, para sentirmos a sofisticação, são apenas uma transferência do trabalho dum assalariado, para um cliente, que o executa, em regime de voluntariado.
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