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Gazeta Paços de Ferreira

07/11/2023, 0:00 h

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Novos Tempos - Coisas simples que fazem toda a diferença…

Opinião Sérgio Carvalho

OPINIÃO

Já dizia o poeta, mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, mas há coisas que nunca deveriam mudar, como saudar, cumprimentar aqueles com quem nos cruzamos, ao entrar e sair de algum sítio, e os próprios colegas de trabalho.

Por Sérgio Carvalho (Professor e jornalista)

OPINIÃO

 

 

O ser humano é um ser social por natureza. Nasce, cresce e vive em comunidade, integrado em pequenos ou grandes grupos, desde a família até à nação ou país. O ser humano precisa de estar com os outros para se sentir bem consigo próprio. É na alteridade que cada um vê a sua individualidade. É no contacto com os seus semelhantes que cada um se torna mais humano e forma a sua personalidade.

 

 

A necessidade do contacto com os outros, de comunicar, de ser notado como parte do todo, tem-me feito refletir nos últimos tempos. Nós precisamos uns dos outros, não no sentido utilitarista, porque dou ou recebo alguma coisa, mas porque precisamos de comunicar, não só com palavras, mas também com gestos e com silêncios.

 

 

Muitas vezes, precisamos mesmo de silêncios, de nos retirar para o silêncio, para escutarmos a nossa voz interior e a voz de Deus.

 

 

Recordo os tempos em que era usual, e ainda é em alguns meios, saudar todos aqueles que passavam por nós, com um «bom dia», um «boa tarde» ou «boa noite». Era normal quando nos despedíamos dizer «até amanhã, se Deus quiser». Com o ritmo apressado da vida moderna, a desconstrução das comunidades, fruto dos êxodos rurais ou suburbanos, levou a que não conheçamos os nossos vizinhos, nem nos atrevamos a saudar aqueles com que nos cruzamos no elevador ou na rua.

 

 

Saudar, tem a mesma etimologia que saúde ou salvação. Saudar os outros dá saúde, dá salvação, dá sentido de existência.

 

 

Há dias, passava numa rua muito movimentada. Tudo era o normal e trivial. Os mesmos sem abrigo, nos mesmos degraus e pedras frias; as mesmas pessoas no entra e sai das lojas e instituições bancárias, quando uma voz simples, mas bem sonora de uma pequena criança dizia a todos os que passavam um «olá» cheio de vida e alegria. As pessoas reagiam com surpresa e lá respondiam à inocente criança, primeiro a medo, mas depois esboçando um belo sorriso. O «olá» daquela criança devolvia humanidade às pessoas e ao passeio que ela percorria.

 

 

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O mais belo foi ver a criança a olhar um sem abrigo que, habitualmente, grita e fala sozinho, praguejando pelo infortúnio da sua vida, e dizer-lhe olhos nos olhos, pois estava ao seu nível na rua e na escada onde ele se sentava, um forte «olá». Aquele pobre e simples homem, como que renasceu. Saiu da profundeza da sua dor e solidão e respondeu à inocente criança com um gesto, acenando e levantando o polegar, agradecendo ter sido visto e notado, pois ele também é humano.

 

 

A saudação daquela criança devolveu humanidade àquele sem abrigo e a todas as pessoas que com ela se cruzaram. Saudar os outros dá mesmo saúde e pode ser mesmo tábua de salvação para tantos que se sentem sós, abandonados, caídos ao longo do caminho da vida.

 

 

Já dizia o poeta, mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, mas há coisas que nunca deveriam mudar, como saudar, cumprimentar aqueles com quem nos cruzamos, ao entrar e sair de algum sítio, e os próprios colegas de trabalho. Razão tinha Jesus Cristo quando recomendou aos seus seguidores: quando entrardes em alguma casa, dizei: paz a esta casa e se lá houver gente de paz, ela repousará sobre eles, senão retornará para vós…

 

 

 

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