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Gazeta Paços de Ferreira

18/01/2025, 16:26 h

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Nos oitenta anos de um amigo

Cultura Opinião Abílio Travessas

CULTURA

Três eram os mosqueteiros, amigos, até à chegada de D’Artagnan. O de Alexandre veio da Gasconha para Paris, o nosso, de Aguçadoura, para se juntar aos do largo da Igreja de Aver-o-Mar.

Por Abílio Travessas (Colunista e Professor aposentado)

 

Três eram os mosqueteiros, amigos, até à chegada de D’Artagnan. O de Alexandre veio da Gasconha para Paris, o nosso, de Aguçadoura, para se juntar aos do largo da Igreja de Aver-o-Mar, o Zé Manel, o Pedro e eu, Abílio, o mais valdevinos, corredor dos caminhos da freguesia, desde o rio nascido em Fonte do Galo, onde armávamos aos pardais, até ao mar onde o Esteiro desaguava, meandros desenhados no percurso final, paisagem destruída pelo chamado progresso…  O Tone Monteiro começou a completar a hoste, de bicicleta, para nos acompanhar até à Póvoa, vindo dos fieiros aguçadourenses, casa de traseira virada ao mar, oficina no rés do chão a mudar os calcantes de burros, éguas, cavalos e outras alimárias necessitadas de ferraduras. Das bicicletas, nada de modernices de mudanças Huret, quando muito de cubo Sturmey Archer, rezam muitas memórias: sprints ao hectómetro referenciado pelo marco, guarda-chuva contra a intempérie, a luta contra o vento-norte – eram benvindas as carroças que regressavam da feira da Vila, às sextas-feiras – mas também propiciadoras de viagens rápidas com ele pelas costas, e a estória mais hilariante que trágica que vos conto.

 

 

Em dias de chuva mais intensa os automóveis dos nossos pais, o meu e o do Zé Manel e, por vezes, o Dr. João Amorim, médico da minha família, (o Dr Alberto Moreira dava assistência à família Amorim) faziam o frete de levar os estudantes liceais até à Póvoa. Uma tarde já de sol e sem transporte o Tone trouxe-me, sentado no quadro da  pasteleira, usual naqueles tempos de dificuldades e solidariedade. Já no Alto do Norte, descendo o pequeno declive, avistámos, ao longe, uma patrulha da GNR, dois soldados, um de cada lado da estrada N 13, Mauser a tiracolo, vigilantes das liberdades mais corriqueiras. Sabíamos que infringíamos regras iníquas descritas na carta que nos era exigida. A mais desconforme com a realidade proibia que os menores de doze anos circulassem nas estradas nacionais, o que nos impossibilitaria a ida para o Liceu, na Póvoa.

 

 

 

 

Instruções rápidas do comandante do transporte colectivo: “Não desças, faço que desmonto e ao chegar perto dele (o do nosso lado da estrada, mão levantada a intimar-nos a parar), ponho um pé no chão e arranco de imediato”. Mas houve um pequeno percalço na estratégia tão bem pensada: a corrente saltou no momento de arranque depois da simulada paragem. E o GNR, esbaforido, deitou-nos a manápula.

 

 

O Tone não cumpria as regras, sem documentos, sem chapas identificadoras e só o pai, chamado em nosso auxílio, vindo da Póvoa, resolveu um litígio, tão grave…, de dois adolescentes.

 

 

Foram palavras sentidas, memórias que cimentaram amizades de setenta anos, no octogésimo aniversário do António Avelino Monteiro.

 

 

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