12/10/2024, 0:00 h
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OPINIÃO POLÍTICA
Por Cristiano Ribeiro (Médico e Militante do PCP)
Ao promover um modelo de carros da sua marca, em plano de igualdade nas suas versões com motores elétricos, motores híbridos e motores de combustão, a gigante automobilística alemã dá um sinal claro do abandono da impropriamente chamada politica "ecológica verde" europeia, em favor de um maior realismo e verdade na aplicação de políticas públicas.
E se a Mercedes o diz agora, se assim procede, é porque já haverá um "retrocesso" oficial na União Europeia, nos seus corredores alcatifados, na defesa de um fundamentalismo gasto que por aí predominou durante muitos anos, baseado em sofismas, em explicações fáceis e em delírios económicos.
Afinal o mundo dos transportes privados não estava minimamente preparado, quer tecnologicamente quer economicamente, para assegurar qualidade, bem-estar, bom preço e verdadeiras opções ecológicas. O slogan que anunciava que o eléctrico é que era bom desfez-se agora. Enquanto a Europa se entretinha em fantasias, os Estados Unidos da América continuavam a utilizar sem limites os veículos de motores de combustão clássicos.
Julgo haver talvez duas outras razões, estas menos expostas, para este "flic flac à retaguarda” alemão, percursor de igual orientação futura nos restantes países europeus.
A primeira razão resulta na terrível situação da sua indústria automóvel, incapaz de responder concorrencialmente com a República Popular da China, nomeadamente no setor dos motores elétricos. Anuncia-se fecho de instalações e desemprego em massa de operários qualificados. Há um avanço tecnológico notável nos carros chineses e portanto só resta a Bruxelas criar barreiras alfandegárias ou obstáculos de outro tipo à sua comercialização no Velho Continente. Ao Vêm aí os russos! sucedeu o Vêm aí os carros chineses!
A segunda razão resulta na penúria energética da Europa, que se viu agravada após o ato terrorista no NordStream e com as sanções anti-russas. A Europa viu-se sem derivados do petróleo, sem lítio, sem carvão, sem energia nuclear e sem países "amigos" abastecedores de matérias-prima. A guerra na Ucrânia e no Médio Oriente, na sua origem, desenvolvimento e atual perspectiva de futuro, constituíram-se num terrível e insolúvel desafio para a Europa. O que fazer?
O retorno à exploração das minas de carvão e ao nuclear parece inevitável. Os povos o exigem para sobreviver e a economia igualmente. E há já uma tradução política, nomeadamente no desaparecimento estrepitoso dos Verdes alemães, em eleições, a que outros se seguirão. A retórica da “energia limpa” em contexto capitalista atrai cada vez menos.
No Conselho de Administração da Empresa Mercedes há quem, atento, como alguém me disse, “não coma gelados com a testa”.
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