Por
Gazeta Paços de Ferreira

20/12/2024, 18:52 h

493

NATAL E A “MENTALIDADE DE GUERRA” DE MARK RUTTE

Destaque Opinião António Colaço

OPINIÃO

Está assim visto que o destino da Europa não se encontra amarrado ao da Ucrânia, menos ainda na problemática de guerra.

                                    

Natal é um acontecimento social festivo universalmente praticado, pelos cristãos e não-cristãos, independentemente de qualquer credo religioso. É o ‘tempo’ de todos os cidadãos do mundo – tanto os que o celebram, como os que não o podem celebrar -, mas no qual todos anseiam pela PAZ, CONCÓRDIA e SOLIDARIEDADE ENTRE OS SERES HUMANOS.

 

 

Foi, por isso, surpreendente e assombroso o discurso do Sr. Mark Rutte – Secretário-Geral da NATO, no Carnegie Europe em Bruxelas no dia 12.12.2024. Eis alguns chavões:   

 

* se quisermos segurança para os nossos filhos e netos devemos adotar uma mentalidade de guerra e estar preparados para um conflito de longo prazo;

 

* o apelo aos cidadãos dos países que compõem a NATO para “fazer sacrifícios envolvendo cortes nas pensões, abdicando de sistemas de saúde e de segurança social, tudo em homenagem ao princípio peregrino de ‘paz através de força”

 

* o clamor emotivo de “sem segurança não há liberdade para as nossas filhos e netos, não há escolas, não há hospitais, não há negócios. Não há nada”, não faltando diretrizes para o investimento, como, “instruir os bancos e fundos pensionistas para investir na indústria de defesa” – ‘defesa’, entenda-se ‘guerra’.

 

* o lamento de alcance economicista “a nossa indústria de defesa tem sido decapitada devido a décadas de sub-investimento e de atrofia dos interesses da indústria nacional” …” deem às nossas indústrias grandes contratos de longa duração de que necessitam para rapidamente produzir mais e melhores capacidades”  

      

* “Para prevenir a guerra NATO tem de gastar mais”

 

* “Ele (Putin) está a esmagar a nossa liberdade e modo de vida”. “Róssia está a preparar uma confrontação de longa duração”

 

A guerra é brutal e feia” “De momento não existe perigo para aos nossos 32 aliados porque Nato tem vindo a transformar-se para nos deixar mais seguros”.

 

Começaríamos por indagar: Se a guerra é brutal e feia, porque adotarmos uma mentalidade de guerra em pleno século XXI? Do acima exposto, e independentemente * da natureza algo contraditória, que as frases comportam, quando comparadas entre si, * da flagrante inclinação e apelo para um forçado desenvolvimento da indústria armamentista, e * de um manifesto desrespeito pelos direitos que a condição humana urge significar o seguinte:

 

 

A NATO compõe-se de 32 Nações.  Em termos geográficos, o Atlântico do Norte não abrange tantos países. Significa isto que esta instituição tem vindo a expandir-se para além dos limites para que inicialmente estava previsto. Surgiu em 1949 para fazer face à expansão do comunismo e ao seu formato de economia planificada, oposta à vertente económica do capitalismo, na altura pontificado pelos EUA, dada a destruição de Europa no rescaldo da II Grande Guerra. Porém, os ventos da história determinaram a queda do regime soviético e ,com isto, o Pacto de Varsóvia, constituído em 1955 de iniciativa da URSS, gerada precisamente para fazer face à NATO.

 

O desmembramento da URSS deu origem à Federação Russa e a alguns Países independentes, entre os quais se insere a Ucrânia. No plano económico aquela Federação abandonou o figurino político-económico soviético, optando pelo regime do liberalismo capitalista.

Está assim por descobrir qual o alcance defensivo da NATO. Sem prejuízo da proximidade da Ucrânia com a União Europeia e da invasão de que foi vítima, está por se descobrir até que ponto o seu caso possa servir de paradigma, para constituir um perigo europeu, quanto mais não seja por estar reconhecido que “não existe, de momento, qualquer ameaça aos 32 países da NATO”.

 

Sabe-se que a relação da Ucrânia com a Federação Russa é muito específica do ponto de vista histórico, como geográfico, geopolítico e económico, aspetos que não se relacionam com qualquer país europeu, pelo menos no plano do imediato.

Outra é a questão da Ucrânia desejar pertencer à EU, tema que nada ter a ver com a NATO.

 

Está assim visto que o destino da Europa não se encontra amarrado ao da Ucrânia, menos ainda na problemática de guerra.

 

A “mentalidade de guerra” proposta só se perspetiva sob os seguintes prismas: 

i) a tentativa de para arrastar a EU a uma aventura de confronto contra países que se congregam no BRICS e a CHINA. São países de economias crescentes que nenhum apetite nutrem pela guerra;

ii) comprometer as jovens gerações europeias confinando-as a um estado de instabilidade emocional e ódio vivencial contra uma pretensa “outra” parte de humanidade, afastando-as dos valores de paz, amizade e convívio entre Nações. Se “a guerra é brutal e feia” então nada justifica que no século XXI se alistem jovens de 18 anos para a guerra. Os abusos de invasões territoriais combatem-se com a força de Organizações representativas mundiais como a ONU, até que a negociação diplomática resolva a questão;

iii) um apelo para o incremento maciço da indústria armamentista, de natureza ofensiva pondo em causa um equilibrado relacionamento das economias mundiais, na produção de bens que possam contribuir para o bem-estar geral da população mundial em geral e a europeia em especial;

iv) estar em causa a própria credibilidade na natureza defensiva da NATO face à fuga no pagamentos de quotas de grande maioria dos países que a compõem, a ponto do seu principal patrocinador – os EUA – ameaçar com a sua retirada;

v) a fragilidade da máxima “paz através da força”, por uma  entrega de armas para combater ser incompatível com uma organização que se diz defensiva e

vi) um desrespeito pelos mais elementares direitos da condição humana, pelo apelo à renúncia do direito à pensão, de poupança e de cuidados de saúde, baseado num não comprovado estado ou ameaça de guerra.

 

António Bernardo Colaço, Conselheiro do STJ Jubilado

Lisboa – 20.12.2024

 

ASSINE GAZETA DE PAÇOS DE FERREIRA

 

Opinião

Opinião

Em tema de crédito ao consumo: “só se empresta um cabrito a quem tem um boi…”

6/07/2025

Opinião

Instituições Particulares de Solidariedade Social

6/07/2025

Opinião

Habitação, promessas no papel, silêncios no terreno

6/07/2025

Opinião

A mobilidade pública é uma questão de justiça

6/07/2025