08/05/2022, 0:00 h
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É herói quem enfrenta a besta quando não lhe resta um único buraco para se esconder? A esse move-o a coragem ou o desespero? E o que, munido duma simples fisga de caçar pássaros, desafia deliberadamente o monstro armado até aos dentes, é o quê? Herói? Arrogante? Imbecil? A história é rica em exemplares para os vários gostos.
Em tempos remotos, um rei português enfrentou os castelhanos para garantir a manutenção da independência, enquanto um outro, ingénuo e sabe-se lá mais o quê, condenou-nos a um domínio estrangeiro que durou sessenta anos, movido pela vaidade pessoal, embora proclamasse que agia pela grandeza do reino. São ambos heróis, apregoam as crónicas mais patrióticas, porém, pelo menos o último, não o reconheço como tal.
A idolatração dos heróis é o expediente utilizado pelas classes dominantes para convencerem os dominados a morrerem pelas suas causas. Covardes, bem protegidos em bunkers e servidos principescamente por súbditos fiéis, inflamam os espíritos de jovens imberbes que se alistam, empolgados, avançando depois para as frentes de batalha. Prometem-lhes fama e glória, e estes morrem sem glória nem fama. São heróis! – proclamam os senhores aos sobreviventes para manterem a chama acesa naqueles que não morreram ainda.
Será heroico o ato de se lançar cegamente contra o inimigo dos seus chefes, não sendo seu? Como se pode desejar a morte a quem se não conhece e nunca nos fez mal?
No final do século XIX, D. Carlos rendeu-se às condições impostas no ultimato inglês, cedendo um vasto território em África situado entre Angola e Moçambique. Não tínhamos como enfrentar o fortíssimo exército inglês e vencê-lo. Ou concordávamos com a amputação territorial exigida, ou perderíamos tudo. Nas inflamadas discussões que se disputavam às mesas dos cafés, e nos jornais, não faltaram os heróis, os patriotas, que apelidaram de covarde o nosso rei, pois – diziam – deveríamos ter lutado até ao último homem. Heróis em lugares seguros! Não seria o seu sangue nem dos seus que se verteria naquele chão africano.
Há momentos em que ser herói não é dar o corpo às balas, é proteger o povo de males maiores. Heróis não são os que fazem as guerras, heróis são os promotores da paz.
Joaquim António Leal
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