28/12/2024, 0:00 h
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OPINIÃO POLITICA
Por Cristiano Ribeiro (Médico e Militante do PCP)
Merkel assinala agora a presença do Koni (que era presença habitual e disciplinada na receção na estância de verão a altos dignitários estrangeiros) como uma provocação/teste de Putin. Este, segundo Merkel, teria sido informado anteriormente da fobia a cães de Merkel, resultante de ataque e mordedura por cão na infância. E em ano anterior teria enviado até a Merkel um cão … de peluche, que obviamente não mordia…
Putin alega agora em resposta à referência que não conhecia a hipersensibilidade a cães da própria Merkel, negando qualquer propósito de a intimar com a presença do Koni. Independentemente da verdade ou mentira assim contada, é indiscutível que há um sinal, uma quase-interpretação à base da História, desse episódio.
Merkel sabia que a Alemanha era a principal responsável pelo diálogo do Ocidente com a Rússia, diálogo politico e relações comerciais muito significativas, nomeadamente gás russo barato. Sabia também que a Rússia era uma potência nuclear e militar com interesses, alguns vitais. Putin era portanto o interlocutor preferencial de Merkel e vice-versa. Mas acumulavam-se dúvidas na Europa. Muitos viam com preocupação a dependência energética da Alemanha perante a Rússia, considerando-a excessiva, porque entre outras razões tornavam a economia alemã florescente e competitiva no espaço europeu. Era notório o desconforto além Atlântico com este eixo Berlim-Moscovo.
Putin assinalara outrora contudo uma linha vermelha, o alargamento da Nato a Leste. Mas os falcões da NATO, americanos e filo-americanos, persistiram em romper compromissos anteriores e ousaram usar a Ucrânia (e a Geórgia) como instrumento da sua política aventureira. Em 2008 apresentaram um Plano de Ação para a Adesão da Ucrânia à NATO em Cimeira em Bucareste. Merkel hesitou(por convicção temendo retaliação ou lembrando-se do Koni) e o processo foi suspenso com promessa de adesão futura. Na altura, segundo Merkel, apenas uma minoria apoava a adesão da Ucrânia à NATO.
2014, com a destituição violenta e antidemocrática de Viktor Ianukovytch, e a ascensão do nacionalismo revanchista, foi o culminar de uma tensão crescente. A guerra civil irrompeu violenta. A Rússia anexou a Península da Crimeia, em nome dos seus interesses geoestratégicos, nomeadamente com Frota do Mar Negro. O acordo Minsk 2, que pretendia assegurar paz, foi um acordo possível entre países, mas foi violado como o confirmou Merkel, um dos assinantes. Ela disse agora: “Os Acordos de Minsk foram apenas "uma tentativa de dar tempo para a Ucrânia, que foi utilizado para fortificar as Forças Armadas Ucranianas”. Após as declarações da ex-líder alemã, Vladimir Putin comentou que "o objetivo era apenas abastecer a Ucrânia com armas e prepará-la para as hostilidades".
Os limites da tolerância e da confiança foram crescentemente quebrados e ultrapassados até 2022. E depois surgiu a guerra, as sanções, os atos políticos hostis. A expansão da NATO a leste criou e manteve na liderança russa esse fator decisivo, a perceção de uma segurança ameaçada, por um vizinho hostil, telecomandado à distância.
A presença de Koni na sala em 2007 não foi valorizada como devia, tais como os mastins nazis à solta em Kiev, tais como as dimensões gigantescas da mesa onde se sentaram Putin e Macron pouco antes do início da guerra. A estúpuida diplomacia europeia, como Macron e Merkel, foram inaptos em perceber a dinâmica dos novos bárbaros que se instalavam nos quarteis generais. Agora, desprovidos de autoridade, só lhes resta escrever memórias ou atiçar a retórica belicista, até irem para o balde de lixo da História.
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