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Gazeta Paços de Ferreira

06/07/2023, 0:00 h

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Ídolos do ciclismo

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FIGURAS DESPORTIVAS

O ídolo que me fez sofrer foi, sem dúvida, Alves Barbosa, o bairradino que conseguiu, na sua primeira volta e apenas com 19 anos, envergar a “amarela” na primeira etapa disputada na pista do Académico do Porto não mais a largando. Corria pelo Sangalhos Desporto Club, o pai como treinador, também antigo ciclista. Grande rival de Barbosa foi Ribeiro da Silva, do Académico do Porto, que, se não tivesse morrido demasiado cedo em acidente com “motorizada” seria quase tão bom com Agostinho.

Abílio Travessas

A memória desportiva da infância perdura, principalmente para quem a viveu com  intensidade. O jornal diário trazia-me relatos pormenorizados de várias modalidades, futebol, mas também do hóquei – quem se lembra do Hóquei de Sintra e do Paço D’Arcos ? -  e do ciclismo.

 

O ciclismo, que na beira-mar é omnipresente, chegava também pela rádio, o final das etapas com descrição emotiva dos sprints.  

 

Mas lembro-me bem do relato de etapas da Volta a França no Primeiro de Janeiro, pelo que memorizei muitos nomes: Louison Bobet, o primeiro a vencer três vezes antes de 1956, ano em que Alves Barbosa ficou em 10º lugar com Charly Gaul chefe de equipa, tendo vencido Walkowiak, um desconhecido; Hugo Koblet e Fredy Kubler, suíços ganhadores do Tour, Geminiani que foi director desportivo de J. Agostinho, Bahamontes, a Águia de Toledo e, mais tarde, o grande Anquetil, que venceu a “grande boucle” cinco vezes,  façanha só alcançada por Merckx, o canibal, Hinault e Indurain. E Lance Armstrong? A trapaça foi tão grande que lhe tiraram as sete. Dos americanos prefiro o Greg LeMond, um senhor, de postura desportiva nos antípodas do conterrâneo de quem, aliás, eticamente duvidava – Quando não tiveres nada a dizer, não fales!, conselho da mãe que não esquecia.

 

 

 

 

 

Quanto aos portugueses, a minha primeira memória é a de Fernando Moreira, seguramente por ter sido vencedor da volta de 48, pois tinha quatro anos.

Dias dos Santos venceu as voltas de 49 e 50 mas aqui é o nome do italiano Mario Fazio, a correr pelo Sporting, que me aparece. Gil Moreira em “A História do Ciclismo Português” dele diz que era “adversário de valia de outros ases estrangeiros como eram Coppi, Bartali e Magni”. Ficou em 2º lugar apenas a 2 m de Dias dos Santos.

 

O ídolo que me fez sofrer foi, sem dúvida, Alves Barbosa, o bairradino que conseguiu, na sua primeira volta e apenas com 19 anos, envergar a “amarela” na primeira etapa disputada na pista do Académico do Porto não mais a largando. Corria pelo Sangalhos Desporto Club, o pai como treinador, também antigo ciclista.

 

 

 

 

 

Grande rival de Barbosa foi Ribeiro da Silva, do Académico do Porto, que, se não tivesse morrido demasiado cedo em acidente com “motorizada” seria quase tão bom com Agostinho. A par do Tinô – ganhador em Alpes d’Huez – foi vencedor no mítico Tourmalet e ficou em 4º lugar numa volta a Espanha.

 

Para a história das nossas voltas ficou a 18ª, 1955, com o triste episódio da última etapa, Viseu-Porto. A. Barbosa era líder com 6 m de vantagem sobre R. da Silva. “Porém, um grupo de indivíduos pouco escrupulosos, um pouco antes dos Carvalhos, obrigaram Barbosa a parar, a fim de o atrasarem e agredirem, levando-o a perder a vantagem que usufruía sobre R. da Silva” – A História do ciclismo português.

 

Uma recensão no El Pais despertou-me a vontade de ler um livro – Arriva Italia- Gloria y miséria de la Nacion que soñó ciclismo – que não consegui comprar em Salamanca, em mais uma andança de juristas amantes do futebol, mas que mão amiga me emprestou, do mesmo autor já aqui referenciado, Marcos Pereda.

 

Não resisto a transcrever algumas notas biográficas: Escritor e professor na Universidade de Cantabria; participou em obras tão diversas como a História, a Arte, a Filosofia ou a crónica negra. Intervém também na emissora Onda Cero com o espaço “Historias, Historietas e Historiucas”, onde descreve com um particular sentido de humor episódios do passado de Cantábria. Vive em frente ao mar e gosta de ver chover.

 

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Fica para a próxima crónica falar de Gino Baratali, o pio, grande rival de Fausto Coppi. Mas aqui vão algumas notas sobre os antecessores destes maiores do ciclismo italiano, mitos nunca ultrapassados, não tivessem eles sofrido o fascismo e a 2ª guerra mundial. Bottechia, o primeiro transalpino a vencer o Tour, e Binda. Bottechia era socialista, mas com Mussolini - “Al Duce no le gustaba el ciclismo. Demasiado efeminado…” - a imprensa empenha-se em silenciar e menosprezar  uma carreira de êxitos. A sua morte é um enigma que continua por explicar.

 

Binda, Alfredo, “a quien denominaban el Dictador, le agradaban las camisas negras…”, foi um bom fascista  e, nos anos trinta era o maior ciclista, tendo sido campeão do mundo por três vezes e vencido o Giro, cinco.

 

O perfil que M.Pereda traça dos quatro ídolos do ciclismo italiano, as suas contradições, as opções ideológicas, são o reflexo duma época de grandes convulsões sociais que a Europa passa após a 1ª Grande Guerra.

 

 

 

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