22/10/2023, 0:00 h
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OPINIÃO
Por José Neto (Doutorado em Ciências do Desporto; Docente Universitário; Investigador)
OPINIÃO
Também eu, quando pequenino, ao aproximar a data da Festa Senhora da Hora, em Penamaior, pelo facto de viver em casa de meus avozinhos, ali bem perto da igreja, logo que me levantava cedinho da cama dava uma vista de olhos pela janela, para ver se havia no adro as bandeiras ou os coretos ainda desarmados, mas, nem que estivessem por ali acasalados em peças, já me conferiam uma enorme alegria.
Quando era para colocar as bandeiras ao alto, ou armar os coretos para servir de palco às bandas de música, arranjava sempre um pouquinho de folga e era uma correria para junto do Sr. Seabra ajudar a montar “a tenda”.
Também com o Sr. Dias de Santa Marinha era a mesma coisa.
Na semana que antecedia a festa, ao final da tarde, para a preparação dos morteiros e lançamento dos foguetes, era certinho na ajuda para o que fosse necessário: levar as caixas de pólvora, colocar os morteiros no lugar para o rebentamento, e é claro, quanto ao lançamento dos foguetes, lá estava eu entre o milho ou centeio dos campos, onde se previa que as canas caíam, para, em seguida, fazer um molhe e entregar à minha avozinha, para estacar os feijões, tomates, ou fazer flautas para a rapaziada.
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Na véspera da festa, com a chegada dos tamborileiros, geralmente vinham montados na bicicleta desde Agrela e com as caixas e bombos atravessados às costas, e à medida que apontavam da descida do Mirelo para a Igreja, era dos primeiros catraios junto dos festeiros a fazer a espera.
Engraçado era ouvir o afinar da caixa e do bombo, desde o esticar das cordas ao bater das batutas, era um episódio de muita espectativa.
Quando avançavam alinhados para dar a volta à igreja e arrancar para o Outeiro, Silva, Busto, Inveja, etc … era certo e sabido que os seguia de contentamento e até me oferecia para, nos intervalos, carregar com o peso das caixas, porque o bombo era mais pesado…
À noite também o fogo de iluminação anunciava uma festa de categoria, que no dia seguinte a nossa terra exultava.
No dia da festa, bem cedinho com a alvorada, a alegria estava estampada em tudo em que mexia.
Desde a preparação do forno para a caçoila do anho ou frango, cujo assado tinha o sabor duma refeição como fosse noite de consoada; a vestimenta de roupa a estriar; a montagem das bancas e tendas para a venda dos doces; os jogos das setas, com o galo a espreitar como prémio do melhor atirador; as bancas com os pipos de vinho, iscas de fígado, bolinhos de bacalhau e outras iguarias; entrada da música; a preparação para a missa solene … tudo afinava pelo mesmo diapasão: sorriso aberto nos lábios e muito amor, mesmo muito amor no coração desta gente simples e humilde, mas amarrada por laços de eloquente e afetuoso sentimento coletivo.
(CONTINUA)
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