Por
Gazeta Paços de Ferreira

30/11/2024, 0:00 h

117

Falamos da vida quando falamos de futebol

Desporto Opinião Abílio Travessas

DESPORTO

Vamos ao futebol, ao outro lado dele, aos poetas e prosadores que não tiveram medo de o abordar, porque “tudo o que diz respeito à vida me interessa”.

Por Abílio Travessas (Colunista e Professor aposentado)

 

Mais uma “Inspiração”, encontro anual de amigos que jogaram na velhinha Secção de Futebol da AAC (Associação Académica de Coimbra), organização laboriosa e cansativa com prestimosa ajuda familiar e se teve ponto alto no pantagruélico almoço no Petz Bar, Laceiras, Carregal do Sal, a visita à Casa Museu Aristides de Sousa Mendes, Cabanas de Viriato, restaurada com critério e agrado, começou o dia para os muitos participantes.

 

 

“Inspiração” que serviu para comemorarmos os meus oitenta, e é da praxe coimbrã botar discurso, com apartes – (à) s.m.; frase isolada para interromper  quem fala, Dic. Porto Editora – às vezes exagerados. Escolhi falar de futebol começando por chamar o escritor franco-argelino Albert Camus à reflexão: “O que eu sei sobre a moral e as obrigações do homem eu devo ao futebol”.

 

 

As memórias que o futebol me traz desde a inocência dos primeiros anos no largo da Igreja de Aver-o-Mar, a bola de trapos quando não havia dinheiro para a de borracha, até chegar à de capão e picheril  (não encontrei referências a estas palavras nos dicionários) e, mais tarde já no Varzim, juniores, bola mais a preceito. O encontro feliz e do acaso com amigos mais novos na Coimbra do pós-revolução, amigos que refundaram a Secção de Futebol, trouxe tanta amizade, convívios, viagem a França e Espanha, e tudo o mais que a alma conserva e a memória alberga.

 

 

 

 

Vamos ao futebol, ao outro lado dele, aos poetas e prosadores que não tiveram medo de o abordar, porque “tudo o que diz respeito à vida me interessa”. Carlos Drummond de Andrade: “Confesso que o futebol me aturde, porque não sei chegar até ao seu mistério”; “Bem-aventurados  os que não entendem nem aspiram a entender de futebol pois deles é o reino da tranquilidade”; “O futebol se joga no estádio? O futebol se joga na rua, futebol se joga na praia, futebol se joga na alma!”.

 

 

“Nelson Rodrigues tinha uma personalidade inquietante. Era um jornalista visto como provocador de consciências instaladas, um anti-unanimista – Toda a unanimidade é estúpida, frase preferida de Nelson” in Golos de letra, uma viagem inédita ao mundo do futebol e da literatura em português, Vítor Serpa. Nelson Rodrigues definiu assim o grande Obdúlio Varela, alma da equipa azurra, Uruguai, que venceu o Brasil, no Maracanã, em 1950: “Varela não ata as chuteiras com cordões; ele as ata com as veias”.

 

 

Lobo Antunes: “Essa história dos intelectuais não gostarem e não se interessarem pelo desporto é uma treta. O Niels Bohr, dinamarquês que foi prémio Nobel da Física, jogou na selecção do seu país. O Camus foi um vigoroso guarda-redes. É uma estupidez completa.”

 

 

Livro que me deixou mais uma vez reconciliado com o futebol, Futebol: Sol e Sombra, de Eduardo Galiano, com prefácio de Manuel Jorge Marmelo. São crónicas breves que percorrem o mundo do ludopédio e na entrada Eusébio, começa assim: “Nasceu destinado a engraxar sapatos, vender amendoim ou roubar os incautos. Em criança chamavam-lhe Ninguém. … No Mundial de 66, as suas arrancadas deixaram um estendal de adversários pelo chão e os seus golos, de ângulos impossíveis, desataram ovações intermináveis”.

 

 

ASSINE A GAZETA DE PAÇOS DE FERREIRA

Opinião

Opinião

Cascas de banana…

17/08/2025

Opinião

De tostão em tostão… se alcança o milhão ou a dimensão colectiva dos direitos do consumidor

13/08/2025

Opinião

A Bolsa de Valores

11/08/2025

Opinião

Gastroparésia: Quando o estômago perde o ritmo

10/08/2025