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Gazeta Paços de Ferreira

31/10/2023, 0:00 h

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Expectativa versus realidade

Educação Opinião ROSÁRIO ROCHA

EDUCAÇÃO

Vou partilhar uma situação que aconteceu com a minha turma noutro dia. Saí com eles e ao questioná-los sobre o castanheiro, descobri que as castanhas saem de uma bolinha com picos. Uma bolinha com picos? Pois, fiquei espantada, quando percebi que poucos sabiam que se chamava ouriço.

Por Rosário Rocha (Professora do AE Frazão)

COMENTÁRIO EDUCAÇÃO

 

 

Cada vez mais os professores se queixam que os alunos não têm vivêncas nem vocabulário.

 

 

Noutro dia, em conversa com algumas colegas, debatíamos precisamente essas questões. Saberíamos nós, com a idade deles, mais do que sabem eles hoje em dia? Será que tínhamos mais vivências ou vocabulário?

 

 

Recuando no tempo

 

 

Eu consigo recuar aos meus tempos de infância. Tinha imensas vivências do campo. Sabia praticamente todo o vocabulário relacionado com a atividade campestre. Sabia o nome dos utensílios e das atividades agrícolas; sabia muito sobre os animais que na aldeia criavam: sabia muito sobre as estações do ano (ainda que não soubesse o nome), e sobre o tempo que fazia em cada uma. Ah...e sabia brincar ao ar livre, fazendo saborosos bolinhos de terra, ervas e pauzinhos.

 

 

Sabia muito de algumas coisas, mas não sabia nada de outras! Não sabia nada do mar, nem das praias; nem dos meios de transporte, nem dos desportos ou artes. A primeira vez que vim ao cinema foi graças ao senhor Padre Adriano, que, generosamente, pegou no grupo de jovens e nos trouxe ao Porto. Teria eu talvez 13-14 anos.

 

 

Provavelmente, os meninos do Porto saberiam muito mais de locais culturais, do mar e da praia, viajariam mais...Eram mais conhecedores das coisas do seu meio, mas eu era bem mais desenrascada no meu.

 

 

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Momento atual

 

 

Passados 20 ou 30 anos, muita coisa mudou. Mesmo nas aldeias, o trabalho do campo já não é a unica atividade das famílias e estas já não levam os filhotes atrás delas, pois os miúdos passam quase todo o dia na escola. Assim, até os miúdos da aldeia já não sabem tanto sobre as atividades do campo como sabiam. Nem falo sobre a minha terra, mas, por exemplo, em Paços há zonas mais rurais e não é por isso que as crianças sabem mais sobre as atividades agrícolas.

 

 

Se perguntarmos aos miúdos o que é um feto ou uma ramada poucos saberão.

 

 

Mas se pouco sabem sobre isso, sabem um pouco mais sobre outros temas, nomeadamente desportos ou artes, pois muitos têm essas atividades após a escola. Sabem mais sobre novas tecnologias e, se tiverem curiosidade, sabem onde devem procurar para descobrir o que não sabem. Eles desde pequenos conhecem o tio Google, que eu só conheci há pouco tempo, já bem adulta.

 

 

Não se pode comparar gerações

 

 

Caímos no erro sistemático de dizer que os miúdos hoje em dia não sabem nada, e no nosso tempo é que era!

 

 

Na minha opinião as crianças hoje, fruto da evolução da sociedade, são bem mais desenrascadas e têm conhecimentos mais vastos do que tínhamos há uns anos atrás. Mas, mesmo assim, nós adultos, e principalmente os professores, continuamos a achar que eles sabem pouco.

 

 

Vou partilhar uma situação que aconteceu com a minha turma noutro dia. Saí com eles e ao questioná-los sobre o castanheiro, descobri que as castanhas saem de uma bolinha com picos. Uma bolinha com picos? Pois, fiquei espantada, quando percebi que poucos sabiam que se chamava ouriço.

 

 

Mas, erro meu, sempre os ouvi cantar desde o JI a canção do "ouriço Poc Poc", longe estava eu de imaginar que não sabiam exatamente o que era.

 

 

E o problema é esse: achamos que as crianças sabem uma série de coisas que não sabem. E não sabem, porque não são expostas a situações de aprendizagem propícias a tal. Não sabem, porque não têm tempo para tudo! Não sabem, porque sabem outras coisas e lhes exigimos que saibam imenso!

 

 

Quem no nosso tempo tinha que saber o que era desflorestação, poluição, reciclagem? As nossas preocupações eram outras.

 

 

O papel da Escola

 

 

Tantas vezes falo nos inúmeros papéis que a Escola tem atualmente. Pois, além de um currículo exigente, é necessário que a Escola complemente a família nas vivências das crianças. As famílias também não têm tempo.

 

 

É importantíssimo que as Escolas organizem atividades fora das suas paredes e explorem o exterior, procurando que os alunos aprendam em contexto e em espaços reais. Só assim se conseguirá cumprir o currículo formal do Ministério e propicionar aprendizagens informais, mas tão necessárias.

 

 

Há pouco tempo os alunos do 3º ano do nosso Agrupamento passaram um dia fora da escola e tiveram oportunidade de fazer desfolhada, assistir ao processo de silagem e ver uma leitaria. Que dia rico em aprendizagens!

 

 

O caminho terá que ser este...Não chega ler, é preciso tocar e fazer!


 

 

 

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