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Gazeta Paços de Ferreira

23/11/2021, 0:00 h

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Em Estado de Sítio

Opinião

Vivemos tempos de fratura social, política, cultural e económica. O drama pandémico veio apenas agudizar o problema e abafar do palco mediático os eternos desafios de um país que vive permanentemente abaixo do nível desejável.

Mais cedo do que esperávamos. A desconcertada geringonça desintegrou-se perante uma manta de retalhos orçamental, que pouco ou nada tinha a oferecer ao país.

As eleições autárquicas do passado mês de setembro parecem assim ter tido mais impacto do que levianamente poderíamos esperar. O espectro parlamentar tornou-se ainda mais sensível à reconfiguração do mapa autárquico, a que se seguiu um deprimente espetáculo com negociação orçamental. Chumbo consumado, o país é convocado de novo às urnas.

A democracia é isto. Não existindo uma convergência maioritária, devolve-se a voz ao verdadeiro soberano, o povo. Aqueles que propuseram soluções tão precárias como uma governação a duodécimos, revelaram apenas a sua única motivação: o poder pelo poder. Torna muito mais clara a ação dos últimos anos, focada em governar o dia seguinte de igual ou pior forma que o dia anterior. Este é o estado do Estado, o estado a que chegamos.

Vivemos tempos de fratura social, política, cultural e económica. O drama pandémico veio apenas agudizar o problema e abafar do palco mediático os eternos desafios de um país que vive permanentemente abaixo do nível desejável. As comparações com os nossos congéneres europeus de leste, além de serem motivo de vergonha, devem, sobretudo, ser motivo de intervenção. Não é admissível perpetuar uma forma de fazer política que impede qualquer mudança estrutural no país, bloqueando reformas em setores como a justiça, a educação e a saúde, que atuam de forma completamente desajustada e ineficaz. O desgoverno de ilusão que presenciamos nos recentes anos abandonou por completo qualquer tentativa de quebrar os viciosos ciclos de pobreza que se autoalimentam, esquecendo o conceito abstrato de “elevador social”, a verdadeira alavanca da mobilidade social ascendente, premiadora do mérito e do esforço. Portugal não se pode tornar refém de uma forma de ser e de estar que condiciona e restringe a capacidade de cada um dos seus cidadãos, aqueles que cá nasceram ou que escolheram cá viver, de concretizar o seu projeto de vida. Deixamos de ser portugueses e passamos a ser resistentes.

As promessas de regeneração do país são vistas por todos os resistentes com desconfiança. Um país não se reforma sem vontade política. Uma economia não se torna altamente competitiva num ápice. Uma sociedade não é automaticamente uma comunidade. A resistência intrinsecamente portuguesa só pode, contudo, significar algo de positivo: a cada obstáculo, agarramos a oportunidade de recomeçar e assumimos a missão de ser início.

“Toda a resistência encerra uma esperança”, disserta Esquirol. Sejamos, nas urnas e na vida, construtores de um novo início, não cedendo nem recuando um passo, rumo à luz do futuro.

 

Tomás Paiva

Vice-presidente da CPC da JSD de Paços de Ferreira

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