15/05/2022, 0:00 h
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No dia 8/02/2022, 3ª feira, solicitei audiência ao Sr. Presidente da Junta da Freguesia de Seroa, Dr. Rui Barbosa, que gentilmente me concedeu. Recebeu-me no seu escritório, pelas 18 h.
Era minha intenção oferecer-lhe várias cópias de escrituras referentes aos terrenos que circundam a Capela do Calvário. Cópias que datam da década/30 do século passado e dariam para cobrir uma parede do futuro Museu de Seroa, com sede na antiga Escola da Poupa.
Documentos históricos, portanto. Históricos, porquê?
Primeiro, porque daqui por 8 anos esses documentos perfazem 100 anos; segundo, porque os seus subscritores há muito faleceram, não havendo por isso hipótese de emenda; terceiro, porque cumprem, à risca, o verdadeiro método de História, assente na heurística e hermenêutica.
Entendeu o Sr. Presidente que deveria dar espaço, em primeiro lugar, a tudo o que dissesse respeito à Arqueologia.
Respeito essa ideia, embora desconheça qualquer “campus” arqueológico localizado em Seroa.
Nunca foi feito qualquer levantamento em torno da Anta ou Mamoa sito no lugar de S. Simão e que o saudoso amigo Sr. Mateus Ferreira tanto propalou nos jornais cá do Burgo.
De resto, diga-se, em abono da verdade, que se fosse “coisa” digna de interesse, o Prof. Doutor Armando Coelho, um expert na matéria, obviamente, lhe teria prestado a devida atenção. Não prestou….
Dignificou-se, porém, o Sr. Presidente, Dr. Rui Barbosa, guardar uma cópia de “COMPRA FEITA PELA CORPORAÇÃO FABRIQUEIRA PAROQUIAL DE SEROA A LUZIA CARNEIRO DIAS (Gião)”. Escritura feita no dia 25 de Junho de 1934, tendo como segundo outorgante (comprador) o reverendo Pe José Barbosa, na qualidade de Presidente da referida Corporação Fabriqueira.
Consta, nessa escritura, que a 1ª outorgante (vendedora) Luzia herdou de sua mãe Maria Ferreira Dias um terreno, de mato, sito no lugar do Calvário e que o vende, àquela Corporação Fabriqueira, por 70 escudos, declarando que esse terreno se destina, expressamente, à construção do edifício da futura residência paroquial, não podendo ter outra aplicação que não seja a construção desse edifício, que, consequentemente, será, a todo o tempo, considerado propriedade daquela freguesia. “Assim o disseram e outorgaram, do que dou fé” (palavras do Dr. António Henrique Pinto de Vasconcelos, notário que elaborou esta escritura).
Luzia Carneiro Dias (Gião) – os mais novos não sabem disto, mas os mais velhos, aqueles que contam, hoje, “setentas e muitos…”, sabem que ela ficou na história de Seroa conhecida por “Madrinha da Várzea”, por ser a principal zeladora; a principal catequista; a organista e ensaiadora do Coro Paroquial, e principal influenciadora junto de meu pai, para ele abrir as portas aos mendigos, que por cá passavam (estes pernoitavam nos alpendres, em cima de carros de palha, revestidos com mantas. Ainda hoje considero um milagre nunca ter havido incêndio, já que os mendigos fumavam e a palha era um verdadeiro barril de pólvora).
A ela se deve, também, a influência para a construção da “Casa das Saibreiras”. Casa essa que, pelos dados que recolhi, deve ter agora cerca de 80 anos e serviu, na altura, para albergar pessoas muito carenciadas.
Fiquei muito feliz por saber que os descendentes dessas pessoas, com quem falei, vivem “razoavelmente”, para não dizer “bem”. Hoje, como ontem, são poucos os que vivem bem. Só os oligarcas. E, que eu saiba, em Seroa não há disso.
A segunda conclusão que eu quero que se retenha é que meu pai, Jacinto da Costa Maia, quando vendeu, trocou ou cedeu os terrenos para a “Casa de Sessões da Junta” e “Salão Paroquial de Seroa” fê-lo, utilizando, exactamente, os mesmos termos, ou seja, declarando que esses terrenos se destinariam, expressamente, à construção desses edifícios.
Razão pela qual, insisto, ninguém lhes poderá dar outro destino. Lamento que o Sr. Dr. Rui Barbosa não quisesse ficar com a cópia da escritura da “compra feita por Padre José Barbosa a Luzia Ferreira Lage e Irmã” correspondente a uma Bouça denominada “Senhor do Calvário”. Faço referência a estas Senhoras por ver nelas duas grandes benfeitoras. Duas grandes beneméritas a quem Seroa muito deve...
Manuel Maia
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