16/02/2023, 0:00 h
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Educação Opinião ROSÁRIO ROCHA
EDUCAÇÃO
Rosário Rocha
Cantar as Janeiras
Durante o mês de Janeiro, existe a tradição de cantar as Janeiras. Este ano, devido ao tempo chuvoso, quase que íamos cantar as “fevereiras”, pois apenas conseguimos sair mesmo no final do mês.
Preservar tradições
O cantar os Reis ou a Janeiras é uma tradição antiga. Sair pelas ruas e cantar de porta a porta é uma tradição que vem de outros tempos. Antigamente os pequenotes faziam-no sendo uma oportunidade de recolherem algumas lambarices ou até comida. Na minha aldeia também se aproveitava para recolher alguns produtos alimentares e, quando se tinha sorte, lá vinha um fumeirito, que era uma maravilha!
As pessoas abriam as portas das suas casas e tinham um serão (noite) diferente, pois a alegria invadia os seus lares. Para quem ia cantar, o seu objetivo era essencialmente o convívio, numa época em que as festas eram poucas e a tradição de ir ao café também não era muito forte.
Com o passar dos anos mudaram-se um bocadinho os objetivos: aproveita-se a tradição para recolher de preferência dinheiro para determinadas obras de cariz social ou para festas.
Convívio intergeracionai
Apesar de todos os objetivos das Janeiras, do meu ponto de vista o principal deve manter-se: convívio entre gerações, preservando tradições.
Tem sido habitual que os utentes dos Centros de Dia venham às escolas cantar as Janeiras. Após a pandemia, finalmente os utentes do Centro de Dia de Arreigada/Frazão e Ferreira puderam voltar ao Centro Escolar de Arreigada.
Confesso que é um dos momentos que me traz sempre à flor da pele um misto de sentimentos (alegria, nostalgia…), talvez porque tenho uma avó com a módica quantia de 94 anos de idade e vejo em cada um que chega um pouquinho da minha avó. Este ano havia uma senhora com 100 anos! Para eles é um momento especial pois veem alguns dos seus netos, bisnetos…e ainda alegram o dia dos nossos pequenitos, sentindo-se úteis. Para os nossos petizes é um momento de aprendizagem, também.
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Articulação com a comunidade
Ao longo do ano vão-se abrindo as portas da escola à comunidade em várias atividades, mas nas Janeiras cantadas porta a porta, é a Escola que vai à Comunidade. Fazem falta estas atividades em que se sai à rua. Noutros tempos, os caminhos até às escolas enchiam-se de vida e gargalhadas quer na ida, quer no regresso. Mesmo que os miúdos não fossem acompanhados pelos pais, iam em pequenos grupos e por onde passavam eram “vigiados” pelas pessoas que conheciam quase todos os pequenotes e iam “tomando” conta deles. Hoje em dia com os transportes escolares ou pessoais, os caminhos encontram-se cada vez mais vazios e parece que as aldeias ou vilas têm cada vez menos vida.
Ir cantar as janeiras de porta em porta é também levar vida às ruas e a cada casa, em especial àqueles que já têm dificuldades em sair dos seus lares, os mais vulneráveis. A moedita que atiram pela janela, é, sem dúvida, o menos importante. A grande recompensa é ver pessoas à janela com um sorriso no rosto e um ar de gratidão pela “visita”.
E é por estes motivos que devemos sair dos portões da escola: para devolver vida às ruas e para convivermos, ainda que por breves momentos, com aqueles que estão “presos” dentro das suas casas e que precisam de uma visita. E assim, o Cantar das Janeiras, além de manter tradições, tem um lado humano que é muito especial.
Rosário Rocha
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