08/01/2022, 0:00 h
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Para o ano que ainda mal principiou, prevejo sem qualquer recurso a cartas, entranhas de galinha ou estrelas, que boicote será uma palavra que iremos escutar muitas vezes.
A começar já no próximo mês, com o boicote diplomático por parte de vários países, como os Estados Unidos, o Reino Unido, o Canadá, a Bélgica e outros, aos Jogos Olímpicos de Inverno em Pequim. Na base do boicote estão os constantes atropelos dos direitos humanos na China.
No final do ano, no Qatar teremos o mundial de futebol, e temos já anunciado um boicote comercial por parte da Dinamarca. Estes irão abdicar do espaço publicitário nas camisolas, para colocar mensagens de cariz humanitário. Possivelmente outros países deverão juntar-se a este boicote contra as condições de quase ou mesmo escravidão dos trabalhadores migrantes, assim como o elevado números de mortes de trabalhadores na construção dos estádios.
Quanto a Portugal, que contará com 3 atletas nos Jogos Olímpicos de Inverno, decidiu não juntar-se ao boicote. Pesou talvez nesta decisão, a conta da electricidade… Já no futebol, por enquanto em cima da mesa, apenas está o ‘’boicote’’ presencial, caso não vença a duas eliminatórias de acesso ao mundial.
Mas se hoje, a palavra boicote é de normal e de lógico emprego, quando alguém, em forma de protesto, pretende ostracizar um outro, a verdade é que a palavra surgiu apenas no final do século XIX.
O seu ‘’criador’’ dava-se pelo nome de Charles Boycott, era inglês e era uma espécie de capataz das terras do Lorde Erne, na Irlanda. Geria as suas terras, cobrava as rendas, contratava o pessoal e à conta de duras regras e pesadas multas aplicadas, tinha uma péssima fama junto dos camponeses irlandeses.
No ano de 1880, as colheitas foram muito más, e os camponeses foram pedir ao ‘Capitão’ Boycott uma redução nas rendas. Mas Boycott, não só negou o pedido, como antes que protestassem desalojou 11 camponeses.
A resposta dos camponeses não tardou, e a partir daquele momento negaram-se a trabalhar nas suas terras e na sua casa.
Começou assim um protesto imparável, com toda a comunidade a ignorar Boycott. As empresas e lojas locais deixaram de o servir, os vizinhos deixaram de falar com ele, na igreja ninguém se sentava perto de si, e até o carteiro se recusava a entregar-lhe as cartas.
A dimensão do protesto foi tal, que os jornais ingleses enviaram correspondentes para relatar a situação. Com o agudizar do protesto, Boycott não encontrava pessoas para trabalhar, e assim sem solução para o problema criado, decidiu fugir da Irlanda, no final desse ano.
Este protesto ficou imortalizado com a colocação da palavra boicote no dicionário.
Boicotes como os descritos inicialmente, poderão até não ter muito sucesso, mas a história está recheada de exemplos de boicotes que mudaram o mundo, como os boicotes na Índia liderados por Gandhi, e mais recentemente o boicote às aulas de Greta Thunberg.
Dizer não aos poderes instalados, será sempre um acto de muita coragem e muito difícil de enfrentar, mas quando este é sustentado pela verdade e pela justiça, mais tarde ou mais cedo será acolhido por todos, e o mundo progredirá.
E felizmente como: ’há sempre alguém que resiste’, e ‘há sempre alguém que diz não’, espero que desse lado, sentado esteja, alguém que se levante e diga não, e boicote sem tremer e sem temer os ‘capitães’ que hoje surgem e tentam sonegar liberdades, direitos e futuros!
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