17/09/2023, 0:00 h
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CULTURA
Por Abílio Travessas (Colunista e Professor aposentado)
CULTURA
A sala era fria, húmida, na Escola Primária de Refojos, Aver-o-Mar e o prof. Elias competente dentro de disciplina que não tolerava qualquer devaneio. Ao lado da secretária e do mapa de Portugal, continental, um armário com livros e material didáctico. Dos livros não me resta qualquer memória, de um que fosse, mas sei que algum devo ter lido.
No Liceu Nacional da Póvoa de Varzim a biblioteca já assim se podia chamar, livros enclausurados em armários, protegidos por rede. Um livro que escolhi ao acaso, aventuras de Harry, com algum suspense, mas nada mais ficou. Regressado muitos anos depois em visita ciceroneada por colega, a biblioteca desiludiu-me pela dimensão. Eu, que não perdia qualquer oportunidade para renhidos jogos em furos raros, também frequentava a biblioteca, o apelo dos livros existia.
A Biblioteca itinerante da Fundação Gulbenkian estacionava no Largo da Igreja e dava-nos os livros que escolhíamos aconselhados por um senhor atencioso e conhecedor. Nos tempos livres que os fregueses da mercearia, a sua ausência, possibilitava, vejo-me a ler Júlio Dinis, (Uma Família Inglesa, As Pupilas do Sr Reitor, A Morgadinha dos Canaviais – dizia o Dr Louzã Henriques que o escritor era melhor que Eça na caracterização dos personagens) - Alexandre Herculano e as Lendas e Narrativas, Eurico o Presbítero – quem o lê agora?, mais o romântico inglês Walter Scott, o francês Alexandre Dumas e o O Conde Monte Cristo e outro que olvido levou.
As férias, que eram do Natal, da Páscoa e grandes, possibilitavam o abastecimento na biblioteca, bem sortida de romancistas de variados países e de livros de história do Dr. Martins da Fonte, que não dava conselhos, ao contrário da Dona Irene… Livros que me começaram a mostrar o outro lado da versão histórica oficial veiculada pelos livros do Mattoso, António, pai do grande José Mattoso, de quem li recentemente a excelente biografia do nosso rei fundador. Um livro, de que não esqueci a capa toda preta, Solução Final, iniciou-me no Holocausto e na intervenção de Eichmann, arquitecto da decisão dos líderes nazis. Escritores brasileiros, Jorge Amado, Erico Veríssimo, o francês Victor Hugo…
A Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra, enorme, era local de estudo e de leitura. Lembro a necessidade de conhecer melhor a esquizofrenia e do livro que me deixou apavorado pelas reacções intempestivas dos doentes…
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Depois, a Biblioteca do Convento de Mafra e a monumentalidade, a biblioteca moderna de Viana do Castelo, virada ao Lima – de Siza? – a pequena, de Curral das Freiras, a nossa Biblioteca Rocha Peixoto que frequento amiúde, José Régio, Vila do Conde, a de Nelas, Lobo Antunes, com traço do arq. Keil do Amaral, a Alexandre Alves, de Mangualde, a Municipal de Coimbra, da qual foi director amigo recentemente falecido.
A última que visitei, Municipal de Vila Nova de Cerveira, em edifício nobre, múltiplas salas, dá gosto encontrar o poder local a apoiar. Jornais e revistas para todos, nota-se que não é museu… Ah! E um velho, livro nos joelhos, adormecera a pensar no paraíso…
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