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Gazeta Paços de Ferreira

21/01/2023, 0:00 h

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Apenas barcos vazios

Opinião Ricardo Neto

Da nossa génese humana, tendemos sempre a querer encontrar culpados, quando algo corre mal. É a forma que, muitas vezes, encontramos para depositarmos as nossas angústias e raivas. Um barco vazio pode mostrar-nos, que nem sempre podemos encontrar culpados, e pode-nos ainda ensinar algo mais.

 

Nunca esqueci aquela manhã, em que visitei a praia de São Jacinto, em Aveiro, e me deparei com o enorme cargueiro ‘’Courage’’, que tinha encalhado meses antes numa noite de temporal.

Naquele momento, em que via aquele gigante sem vida sobre a areia, em terra continuavam as investigações e interrogatórios, para desvendar as razões e os culpados dele estar ali. Nesse momento pensei, como seria a história, se o cargueiro encalhasse naquela mesma praia sem capitão, sem contramestre, sem qualquer tripulação, e sem qualquer destino… Como seria, se o cargueiro fosse, o que popularmente se chama de: barco-fantasma!
Apesar de parecer um cenário cinematográfico, o avistamento e o achamento de barco vazios à deriva é uma realidade ainda presente nos dias de hoje.

O último barco encontrado, à deriva sem tripulação, foi encontrado perto do Hawai, em janeiro de 2021. A embarcação de Taipé, chamada Yong Yu Sing 18, depois de encontrada e investigada, não permitiu obter resultados conclusivos. Nunca se saberá o que aconteceu, como aconteceu, quando aconteceu, e nunca haverão culpados!

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Da nossa génese humana, tendemos sempre a querer encontrar culpados, quando algo corre mal. É a forma que, muitas vezes, encontramos para depositarmos as nossas angústias e raivas. Um barco vazio pode mostrar-nos, que nem sempre podemos encontrar culpados, e pode-nos ainda ensinar algo mais.
Um conto chinês narra que, um dia, um homem estava no seu pequeno barco no rio, a meditar. Sem contar, e de forma repentina, um outro barco embate no seu. De olhos fechados, o homem pensou: ‘Quem terá batido assim no meu barco?’. Dentro si, um turbilhão de raiva se gerou, e abriu rapidamente os olhos! Quando se preparava para disparar impropérios, vê que o barco que lhe batera estava vazio!
Sem ninguém em quem pudesse descarregar a sua raiva, o homem ficou calado, e a pensar: ‘E agora, como liberto esta raiva?’
Voltou a meditar, e entendeu que a génese da sua cólera não estava no barco, que lhe batera, mas nele próprio…
Assim, aprendeu que, na vida, vamos encontrar muitas pessoas e contrariedades, que são apenas barcos vazios e à deriva. Elas irão bater e importunar-nos, eles irão magoar-nos e ferir-nos, contudo, e apesar de gerarem em nós uma vontade imediata de vociferar, é necessário ver e sentir, que são apenas barcos vazios, e que não valem a nossa investida.
Com o novo ano, que chegou, uma boa resolução para este e para todos os próximos anos: é pensar que mesmo que um ‘barco’, do tamanho do Courage que eu vira naquela manhã, embata forte na nossa vida, pensemos que ele é apenas uma embarcação vazia! E que todo o ódio, que possamos gerar contra ele, ficará apenas em nós! Por isso, trataremos de olhar para os ‘barcos vazios’ com um sorriso!

Ricardo Jorge Neto

 

 

 

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