21/10/2021, 0:00 h
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Hoje apetece-me falar de literatura, talvez porque o sol brilha após vários dias em que o céu foi de chumbo. Mas palpita-me que também teria vontade de dissertar sobre o assunto mesmo que as nuvens continuassem a despejar sobre os telhados os seus depósitos imensos que, por vezes, parecem não ter fundo. Porque adoro viver, e viver é aceitar tudo o que a natureza nos dá, ainda que nos incomode um pouco.
Mas porquê falar de literatura? Porque se trata da única arte onde a matéria prima coincide com a matéria dos pensamentos. A literatura faz-se com palavras, sejam previamente existentes, sejam inventadas, transfiguradas, adquirindo significados novos. Ordenam-se em sequências, por vezes ilógicas na aparência, todavia transmitindo sempre uma mensagem ainda que subliminar. São as palavras algo que vai crescendo, autonomizando-se, adquirindo novas formas, como a vida de gente. E gritam, choram, riem e amuam em interações imprevistas, em sonoridades que ora acalmam ora irritam, em ritmos que apressam, em melodias que embalam para o sono.
Grandes são os autores que, em prosa ou em verso, ou em alguma forma que se não pode definir, permitem que nos apropriemos das suas obras e também um pouco também das suas vidas. Para a posteridade há muito ficaram um Camões, um Eça, um Junqueiro, assim como outros de enorme valor, e do presente relevo José Luís Peixoto e o praticamente nosso conterrâneo Válter Hugo Mãe. Há muitos, presentes e pretéritos, nacionais e doutras latitudes que me enchem as medidas, que me dão ganas de ler para além do tempo de que disponho, no entanto, um destaco: José Saramago. Há quem diga que é difícil, que a sua pontuação atira a gramática para o lixo, contudo, até hoje, foi o único português a conquistar o prémio maior da literatura mundial: O Nobel da Literatura.
Hoje despertei com uma enorme vontade de falar de literatura e, tomo consciência agora, não foi por acaso. A minha colega e amiga Manuela Bentes acaba de publicar um livro intitulado “Ainda Saramago”, abrindo novos horizontes para a leitura e compreensão do autor e da sua obra, com mestria e sensibilidade. Li-o dum fôlego, como quem ingere um líquido de sabor agradável. E não posso voltar a aceitar que alguém me diga que não lê a obra de Saramago porque é difícil. Difícil é passar-lhe ao lado.
Joaquim António Leal
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