31/10/2021, 0:00 h
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Nos Estados Unidos surgiu um grande estudo universitário de que as grandes cadeias de televisão do sistema têm dado expressão que afirma que os países com melhor desempenho na crise sanitária do COVID 19 foram os que têm menores desigualdades sociais.
Foram citados como casos limite (de piores desempenhos) países como os próprios Estados Unidos, as Filipinas, o Brasil, entre outros, que sabe-se, enfrentaram (enfrentam?) uma situação de grande morbilidade e mortalidade, independentemente da riqueza que possuem e dos meios empregues em terapêuticas e vacinas. A infecção COVID trouxe à luz vulnerabilidades e incapacidades inauditas.
O sistema político dominante vai ter dificuldades em as fazer esquecer da consciência. Um outro vector que surgiu (e é importante!) colocou a necessidade urgente de um Sistema Público de Saúde como o mais importante garante da saúde das populações, até à data não valorizado nos Estados Unidos e mesmo desprezado. As imagens vividas permanecerão na memória.
A realidade impõe-se na sua crueza e nos ensinamentos que traz.
Digam o que disserem os liberais, os apologistas do negócio da saúde, os ideólogos mais ou menos disfarçados do “quem quer saúde, que o pague!”, os defensores dos ilusórios “seguros de saúde”, esta é a realidade que um Estado moderno tem de justificar perante os seus cidadãos: na doença não há, e não pode haver, livre mercado, oportunidades, negociações, direitos transaccionáveis. Há indivíduos, famílias, comunidades, com ou sem meios assistenciais para responder a problemas de saúde. E só.
Se a saúde é o estado de completo bem estar físico, mental e social de cada individuo em sociedade, percebe-se que mesmo transcendendo o conceito a ausência de doenças e afecções, nestas se comprova a importância inderrogável da saúde.
Na saúde, os liberais, os interesses privados, estiveram algo escondidos na crise pandémica. Aqui e em todo o mundo. Não era o seu tempo, o seu terreno, quer prático quer na argumentação. Os seus ideológicos ”direitos individuais”, e a sua “confessional” liberdade de escolha, remeteram-se ao prudente silêncio, atentas as responsabilidades assumidas, com a exceção do fornecimento de materiais de proteção, de medicamentos e testes analíticos.
O SNS aguentou-se como pôde, com os seus recursos, os seus profissionais, a sua rede assistencial. Foi no SNS que se defendeu a transmissão do vírus, se combateram formas graves da doença, se correu enormes riscos e se sofreu inenarráveis angústias.
O chamado mercado liberal da saúde não mostrou só as tradicionais “falhas” assistenciais: em território de baixa densidade populacional, em áreas específicas como doenças raras, doenças graves a exigir complexidade de meios e recursos financeiros, etc. Provou também que a saúde não é justificada por uma folha de cálculo Excel. Ou por uma fatura para pagamento.
Mas o custo atual para os profissionais de saúde é elevadíssimo, com a exaustão, o desespero, a desistência. Assinalo a não recompensa material pelo esforço antigo e mais recente, de quem esteve sempre na primeira e única linha das barricadas. A estagnação salarial. A não progressão de carreiras. O abandono dos mais velhos e dos mais novos. A precariedade. A instabilidade de horários e locais de trabalho. A competitividade feroz. O SNS está doente.
Aqui chegados, qual o papel da Esquerda, da Esquerda que não se envergonha de o ser? Trair o seu ideário, secundarizar-se perante os interesses indevidos? Satisfazer-se com palmas, reconhecimentos ou apoios transitórios? Persistir em atos voluntaristas, cegos perante o futuro? Deixar correr o marfim, em nome de glórias passadas?
A Esquerda deve aprender e lutar, quer dentro do SNS como no papel de utentes, ou na gestão politica da Saúde, por exigir um papel central e insubstituível das suas politicas. A Esquerda deve assumir a sua não-neutralidade em questões como a dedicação exclusiva, nas práticas anti-corrupção, nos conflitos de interesses, na formação dos profissionais, na universalidade dos direitos, no direito dos seus profissionais em serem felizes. Em nome da Saúde, contra a Doença.
As greves dos profissionais do SNS aí estão. Incompreendidas talvez, mas corretas.
Cristiano Ribeiro, Dirigente do PCP.
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