31/10/2023, 0:00 h
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OPINIÃO POLÍTICA
Por Cristiano Ribeiro (Médico e Militante do PCP)
OPINIÃO POLÍTICA
O Primeiro Ministro António Costa reuniu com o Ministro da Saúde e com o Director Executivo do SNS. E disso quis dar testemunho.
Da reunião, em momento crítico, terá resultado para um público interessado uma única conclusão: os problemas das urgências são devidos à não utilização generalizada do SNS24 e ao comportamento dos utentes.
Compreendo a interessante conclusão. É o espectável.
Este António Costa nunca reconheceria que o problema das Urgências estaria nos recursos humanos disponíveis a montante, na motivação dos profissionais de saúde, na sua indisponibilidade para realizar horas extraordinárias excessivas, na incompetência de muitas Administrações da Saúde, na evolução demográfica.
Isso seria esperar demais para a auto-suficiência “contentinha” de um Poder por vezes absoluto, autocrático e autista no sector.
A actual crise, para António Costa, resolver-se-ia com uma mera ligação telefónica dos utentes para o SNS24, chave de resolução, pois este é considerado porta de entrada do SNS.
Serão portanto os utentes, iletrados e descuidados consumidores de serviços, os verdadeiros responsáveis pelo caos existente. Compreendo a argumentação, mas discordo completamente.
A realidade atual das Urgências desmente quaisquer ilibações das responsabilidades do Governo e do Ministério.
As Urgências Hospitalares fechadas, os SASU`s sem médicos, o condicionamento dos serviços públicos de saúde, a intransigência negocial, o deixa-andar prolongado, a ineficácia na decisão, a falta de empenhamento, contribuem para um resultado preocupante.
A Saúde dos portugueses é assunto demasiado importante para se restringir a um acesso a uma plataforma digital, pois é sempre na presença física dos profissionais, na gestão oportuna dos problemas, que está a solução.
Não se tratam problemas de saúde na sua esmagadora maioria por telefone.
Ousa-se falar em crescente investimento ao longo dos anos com a Saúde. Ousa-se falar em crescente número de consultas, de episódios de urgência, e de cirurgias efectuadas. Costa estará no País das Maravilhas.
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Talvez fosse importante referir que 40% do investimento publico, do orçamento para a Saúde, vai para os privados, para medicamentos, exames complementares de diagnóstico, tratamentos, internamentos, cirurgias SIGIC, cuidados assistenciais na comunidade, que assim o embolsam.
Talvez fosse importante falar de uma contabilidade “criativa” que conta como efectuadas consultas não presenciais, oportunas “faltas” atribuídas a utentes, devoluções de pedidos de referenciação, comunicações por e-mail, etc.
Talvez fosse importante referir que as boas práticas em Medicina Geral e Familiar, em Pediatria, em Obstetrícia, e outras, estão há muito sacrificadas por falta de recursos, por falta de equipamentos, por ausência de respostas, por não cumprimento de normas orientadoras e protocolos.
Uma visão cor-de-rosa desvirtua a necessidade de amplas medidas de salvaguarda do SNS público.
Diz António Costa que as novas gerações de médicos têm uns enigmáticos “novos hábitos de trabalho”.
Não sei de que fala.
Talvez um jornalismo esclarecedor pudesse tentar justificar com o próprio essa afirmação.
O presente difere necessariamente do passado, nas exigências colocadas. Importava ter planeado a resposta.
O que não aconteceu.
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