Por
Gazeta Paços de Ferreira

25/02/2021, 13:02 h

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VACINAÇÃO COVID EM PORTUGAL – UMA VISÃO

Em tempos de uma certa obesidade informativa, que é sobretudo uma oferta comunicacional excessiva e muitas vezes disfuncional para a pandemia COVID, importa no que diz respeita à vacinação assinalar 10 pontos. Eles constituem a meu ver um guião de discussão e esperemos de mobilização.

1) A vacinação generalizada do maior número de pessoas, criando a imunidade de grupo até ao verão, constitui conjuntamente com a testagem (identificação de casos positivos) e o rastreio (identificação de cadeias de transmissão de contatos), a principal estratégia cientificamente provada para combater a pandemia.

Acrescento também como importante o reforço das medidas de protecção individual e da pedagogia de protecção, a descoberta de medicamentos que impeçam a replicação do vírus ou impeçam em casos graves a “cascata inflamatória” potencialmente fatal. E complemento com as urgentes medidas de reforço dos recursos disponíveis pelo SNS.

2) As medidas de confinamento geral em casos de pandemia, envolvendo populações sãs , foram assumidas por alguns como necessárias do ponto de vista teórico apenas em 2015 e os seus resultados atuais, em diferentes experiências e com diferentes amplitudes, oferecem aparentemente resultados contraditórios e a necessitar de avaliações aprofundadas no futuro.

Mas importa considerar que o vírus é um organismo vivo que não busca matar o hospedeiro, antes habitá-lo como parasita. Daí uma certa lógica de confinamento.

3) Foi portanto na vacinação que se encontrou o foco ou a solução para a crise pandémica sanitária e social, a esperança de se reduzir o número de novos casos, o número de doentes internados e nestes o número de doentes a carecer de assistência especializada nos cuidados intensivos.

As vacinas disponíveis são “genéticas” à custa do RNA mensageiro, pois jogam com o material genético dos pacientes para que não sejam receptivos ao vírus, ao contrario das vacinas “clássicas” em que se inocula uma pequena quantidade de vírus para criar anticorpos.

4) Desde o inicio de 2020, conhecido o vírus, identificadas as suas características , a comunidade cientifica mundial, centros de pesquisa de referencia, empresas farmacêuticas e os países envolveram-se no objetivo de através da investigação descobrir medicamentos eficazes, nomeadamente vacinas.

Recentemente identificaram-se mutações no vírus, que independentemente da sua agressividade, poderão ou não exigir mudanças nas vacinas administradas, para assegurar a sua efectividade.

5) A União Europeia, através da Comissão Europeia, estabeleceu com 6 multinacionais farmacêuticas (BioNTech-Pfizer, Moderna, AstraZeneca, Johnson and Johnson, Sanofi-GSK e CureVace) uma estratégia exclusiva assente em parcerias público – privadas (PPP´s).

A UE financiou com recursos públicos a produção das vacinas, financiou a fase da investigação e desenvolvimento, financiou seguros de risco, exonerou as companhias de qualquer responsabilidade legal perante os Estados seus clientes, comprou antecipadamente essas vacinas.

Porém a UE abdicou de quaisquer direitos de propriedade sobre a invenção que financiou.

6) Nem todas as multinacionais farmacêuticas atingiram o nível de produção própria. As que o atingiram, e viram confirmados a qualidade e segurança das suas vacinas, aprovadas pela OMS, apresentam agora dificuldades e atrasos no ritmo de produção de vacinas, sujeita á capacidade produtiva das farmacêuticas e pela gestão que as mesmas fazem do processo, em função dos seus interesses comerciais, inclusive na resposta aos vários pedidos de aquisição.

Os milionários lucros que as multinacionais farmacêuticas têm vindo a anunciar têm em contrapartida o avanço mais lento na vacinação.

7) As vacinas deviam constituir um bem público universal. As vacinas deviam neste contexto proteger a vida e não o lucro.

O Secretário geral das Nações Unidas referiu recentemente que só em 10 países se concentraram 75% das vacinas administradas e que 130 países não receberam uma única dose.

A exigência da libertação imediata das patentes, independentemente de um preço razoável e do processo legal, constitui –se em imperativo ético.

Seria então certamente possível a negociação para a produção nacional de vacinas desenvolvidas no exterior.

8) Perante as dificuldades crescentes do fornecimento de vacinas, que atrasa irremediavelmente o processo de vacinação, importaria diversificar as fontes de fornecimento, assegurada a qualidade das alternativas.

Só por cegueira ou preconceito ideológico, quer se chame russofobia ou sinofobia, não se consideraria essa hipótese.

Há acordos de produção ou de exportação possíveis.

E mesmo tratando na solidariedade ao desenvolvimento, no campo por exemplo da lusofonia, há imensos planos de cooperação que deveriam ser previstos.

9) Neste contexto o processo de vacinação decorre com alguma normalidade.

Há uma organização montada, com estratégia e objetivos. Há profissionais de saúde fortemente dedicados a essa função, a quem devemos estar muito gratos. Há locais de vacinação próprios, diga-se, algumas vezes não muito adequados, Há escalas de grupos alvos, com prioridades estabelecidas. Há reconhecimento de algum risco, com medidas de prevenção adequadas.

Mas sejam 3 ou 5% os atualmente vacinados, o número tem de crescer com urgência.

10) Há imensas dúvidas, que são normais. A comunidade cientifica não tem tido tempo e espaço para reflexão, atormentada pela urgência da espuma dos dias. A ciência balança entre o dogmatismo acientífico, a irracionalidade do medo e a irresponsabilidade do negacionismo.

Há muita gente com dificuldades em dizer: NÃO SEI!

E isso é a melhor conclusão.

https://youtu.be/HBhq_Oh4C3U

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