Por
Gazeta Paços de Ferreira

18/01/2021, 19:48 h

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UM OLHAR DE 1995 SOBRE A PANDEMIA DE 2021

Opinião

Não tenho por hábito ler as previsões anuais dos astrólogos, cartomantes, tarólogos e outros adivinhadeiros, mas por curiosidade fui-me acercar das previsões destes para o ano de 2020, e curiosamente os astros ditavam que o ano já finado seria regido pelo Sol, sendo por isso um ano muito próspero…

infelizmente de próspero teve pouco, e Sol… só mesmo da janela de casa! Perante tal exactidão fornecida por estas ciências do oculto, acho que ninguém se atreverá a ler nas entranhas duma qualquer galinha sacrificada o nosso fado para 2021.

Se estes métodos de presságio nunca me seduziram pela sua falta de rigor e conteúdo, já a ficção científica não tendo por objectivo fornecer informações sobre o nosso futuro, conseguiu muitas vezes surpreender-me pelos seus presságios certeiros.

Um exemplo simples é o filme de 1902 de George Méliès, A viagem à Lua inspirado nos livros Da Terra à Lua (1865) de Júlio Verne e Os Primeiros Homens na Lua (1900) de H. G. Wells, algo que se veio a concretizar em 1969.

Estas felizes premonições levam-me por vezes a verificar se os autores de peliculas futuristas se aproximaram ou não da realidade. De entre os filmes realizados no século passado que se desenrolaram num futuro chamado 2021, há um que merece uma reflexão, chama-se Johnny Mnemonic, O fugitivo do Futuro.

Realizado pelo artista multifacetado Robert Longo com o argumento de William Gibson, o conceituado autor de ficção Cyberpunk e criador da palavra ‘ciberespaço’ no seu livro Neuromancer de 1984.

A história de Johnny escrita no início dos anos 80 passou para a grande tela em 1995 e contou com um investimento de 26 milhões de dólares, mas o resultado final foi um tremendo fracasso, colocando em risco a carreia do jovem actor Keanu Reeves que após o sucesso de Speed foi nomeado para um prémio de pior actor principal desse ano, sendo salvo anos depois pelo tremendo êxito da trilogia Matrix com inspiração neste filme.

Mas o que terá corrido mal a Johnny Mnemonic? A verdade é que muito provavelmente o filme continha linguagem muito à frente do seu tempo. O filme inicia com um texto introdutório ao ano de 2021 dizendo que o mundo é dominado pelas grandes cooperações e que está assolado por uma grande pandemia que atinge metade da população chamada NAS (Síndroma de Atenuação Nervosa) ainda sem conhecimento da sua cura.

O caos está espalhado pelo mundo, pessoas morrem com esta estranha doença, hospitais lotados, e a insegurança que se vive na rua é semelhante à que se vive na internet, e a única forma de se enviar informação sem que se seja alvo de ataque de piratas informáticos é o uso de pessoas especializadas como correios.

E é a partir daqui que a trama do filme se desenvolve, com Johnny a acordar às 10h30 do dia 17 de janeiro de 2021, para transportar 360 Gb de informação no seu cérebro, apesar de apenas ter a capacidade de conter 180 Gb, tento sacrificado as suas memórias de infância para obter tal capacidade de armazenamento no cérebro.

Curiosamente em 1995 foi lançado o DVD com 4,7 Gb, e esta quantidade de armazenamento portátil na época foi um enorme avanço tecnológico, pelo que os autores do filme pensaram que 360 Gb seria algo gigantesco mesmo para o futuro ano de 2021…

A informação que transportaria no cérebro seria a cura da maldita doença que tanto mal trouxera ao mundo.

Hoje estamos em 2021 e felizmente não vivemos num mundo cyberpunk, mas traduzindo toda a linguagem de William Gibson para o nosso mundo diria que a sua previsão não está muito longe da realidade de hoje.

De facto o mundo vive sob domínio dos grandes grupos empresariais, a pirataria informática é uma realidade, uma pandemia é o maior problema da actualidade e a sua cura ou vacina está mesmo a ser transportada neste momento, não num cérebro de alguém, mas em geladas arcas.

A grande diferença está nas doenças, William Gibson retrata uma doença que não é de origem biológica, mas sim consequência do uso das ferramentas da internet. Mas a sua visão apocalíptica do uso destas tecnologias em 2021 pode ela própria ter um fundo de verdade.

Com a pandemia do corona vírus, nunca o uso das redes sociais foi tão intensa e tão destruidora do nosso traço humano. Somos cada vez mais dependentes destas tecnologias que nos prendem, e que nos pedem atenção a cada segundo. Sempre que vamos verificar o telemóvel para ver se existe algo novo, existe sempre algo novo, e se passamos algum tempo longe destas redes, elas chamam por nós! Elas sabem tudo sobre nós, o que gostamos, o que nos incomoda, o que queremos comprar, quanto tempo parámos a ver uma imagem ou um vídeos, etc… elas estão a monitorizarmos e prestes a condicionar o nosso futuro.

O termo rede que nasceu da ideia de ligar as pessoas está a transformar-se na ideia da rede que é lançada para apanhar um peixe graúdo chamado ser humano.

O caos de 2021 que Gibson previa não está visível, mas a sua génese pode estar neste momento a acontecer!

Agora verifica o telemóvel, porque acho tens novas notificações

Ricardo Neto

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