Por
Gazeta Paços de Ferreira

26/06/2021, 1:39 h

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Ser adolescente em tempo de pandemia …

Marcos Taipa


Ser adolescente em tempo de pandemia é ter que contrariar todo o imediatismo próprio da idade, o agir e o pensar na base do “aqui já e agora” trocando-o pelo depois, pelo amanhã, se tal vier a ser possível.
Ser adolescente em tempo de pandemia é ter que desconstruir todo um mundo pensado em termos absolutos, um mundo feito de certezas inabaláveis, que pulula entre o tudo e o nada, e ser obrigado a relativizar, a passar a incluir o “talvez” no planeamento das suas rotinas e do seu quotidiano.
Ser adolescente em tempos de pandemia é ter que desistir de se ter, como âmago da sua existência ,o seu grupo de pares, para passar a limitar-se nos contactos, nos afetos, nos laços e no toque, e ser obrigado a optar pelo quarto, pela casa, em detrimento de tudo aquilo que é fundamental para construir a sua identidade, como seja, o desenvolvimento de um conjunto de competências de vida, que só são experienciáveis através das trocas comunicacionais com os outros, com o mundo externo.
Ser adolescente em tempos de pandemia obrigaria os adolescentes a trocarem o sentimento de imortalidade, de invencibilidade, e particularmente o gosto pelo risco, que caracteriza esta fase de vida, por uma tomada de decisão e um pensamento preventivo e de responsividade, que não é natural nem é a regra nestas idades.
Se assim não o é, naturalmente, quando os adolescentes vêem manifestações clubísticas com milhares de pessoas sem regras ou limitações, tal não ajuda. Quando se passa uma mensagem de que o encontro de uma final europeia de futebol pode ser uma exceção, tal não ajuda. Quando os adolescentes assistem a um partido político organizar um arraial, fintando as regras estabelecidas e indo contra as orientações da Direção-Geral da Saúde, tal não ajuda. Quando dizem a um adolescente que tem que evitar um conjunto de comportamentos, que tem que fazer um conjunto de sacrifícios ,que naquela idade são hercúleos, e depois vê todo o contrário ser feito e autorizado, obviamente, que esta mensagem não é levada em consideração, tendo até um efeito “boomerang”, isto é, tendo o efeito contrário, porque o desafio é, igualmente, uma característica natural da adolescência.
Nestas idades os exemplos, e os maus exemplos, são sempre muito mais influenciadores do que as mensagens, muitas vezes de tonalidade moralista e exclusivamente produtoras do medo, que visam a mudança de atitudes e comportamentos, mas que nada altera, na verdade, até pelo contrário.
Ser adolescente em tempos de pandemia é não poder ser adolescente! Tal é dramático, na verdade, é, mas este é um dos grupos mais afetados e maior veículo de transmissão da COVID - 19.
De facto, nunca a música de Rui Veloso fez tanto sentido, mas agora numa versão bem mais negra, algo do tipo: “De que vale ter a chave de casa para entrar se o Sol pouco brilha e está sempre a chover, sai da frente por favor, estou entre a espada e a parede”.

Marcos Taipa Ribeiro

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