05/11/2020, 14:43 h
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A França viu repetido um novo ataque àquilo que de mais importante representa: os valores do progresso, da igualdade, da fraternidade e da liberdade.
A morte do Professor Samuel Paty, às mãos de um extremista, radical islâmico, é um golpe que as forças democráticas não podem deixar de repudiar com todas as suas forças. As outras, as antidemocráticas, aproveitarão para reverter a seu favor, o acontecimento, aproveitando para verterem ódio e para fraturarem ainda mais as sociedades.
O tema, desta vez, passou algo incólume no debate nacional, e só não o foi mais face à barbaria do atentado que implicou a decapitação de Samuel Paty. No entanto, para quem está atento aos programas de informação nacionais, assistiu a algumas opiniões de comentadores que iam no sentido de colocarem parte da responsabilidade do sucedido no modelo de integração Francês, relativamente aos imigrantes, particularmente aos imigrantes islamistas.
Em primeiro lugar, este tipo de argumentação é fazer um favor à extrema-direita, pois é inverter o ónus da culpa e da responsabilidade. Um ato criminoso é um ato criminoso e nunca pode, em condições normais, ser naturalizado nem neutralizado no que à responsabilidade de quem o pratica diz respeito.
As forças de direita extremistas, xenófobas, racistas, etnocêntricas, defensoras de uma suposta supremacia de raça que rejeita qualquer tipo de integração do outro, do estrangeiro, apostando na segregação ou mesmo total exclusão e marginalização de tudo o que não é nacional (não conseguindo definir exatamente o que tal conceito significa) aproveita hipocritamente estas situações.
Culpar a França por defender um modelo de assimilação dos estrangeiros e, consequentemente por tais ataques, que é um modelo bem conhecido para quem lá decide emigrar, e não defendendo eu este modelo como o ideal, é leviano e legitimador, em parte, destes hediondos ataques terroristas.
Na verdade, há países que, aparentemente, foram conseguindo um diálogo intercultural mais aprofundado do que a França, mas nem por isso com menos problemas. Refiro-me aos EUA, ou mesmo a Inglaterra.
Este é um dos mais graves e difíceis problemas de resolver pela humanidade e não conheço sociedade alguma que o tenha feito de forma perfeita. Esta é a história de dominados e dominadores, pois mesmo as sociedades, como aparentemente é o caso da Portuguesa, da Espanhola e de muitos dos países nórdicos que apostam num modelo de pluralismo ideológico defensor do multiculturalismo, defendem que as diferenças culturais devem ser respeitadas, mas “não abrem mão” de que os emigrantes devem aceitar parte dos valores sociais dominantes.
Olhar só para os dominadores e não para os dominados, culpar os dominadores e não conhecer a forma de ser e estar dos dominados, é ter um olhar parcial e sectário da realidade.
Quando um grupo étnico ou estrangeiros de uma qualquer nacionalidade que emigra para um país resiste à completa assimilação de regras, modos de vida, gostos e, mais grave, das leis do país onde pretendem ser acolhidos, vivendo em comunidades fechadas, temendo perder a sua identidade, resistindo a absorverem os elementos centrais da nova cultura, então aqui temos um problema insolúvel.
Os Portugueses que emigraram para França nos anos 60, souberam adotar um modelo integrador, não resistindo à cultura maioritária, mas mantendo as características chave da sua própria cultura.
Foi a condição ideal de integração?
Não. Foi a possível com ganhos para ambas as partes.
Marcos Taipa Ribeiro
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