Por
Gazeta Paços de Ferreira

04/02/2021, 1:53 h

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Os outros mágicos do futebol

Opinião

A magia no mundo não deriva apenas dos seus virtuosos executantes, de forma obscura o futebol sempre se alimentou de feitiçaria e de superstições.

No último dérbi de Milão, o Derby della Madonnina, Ibrahimovic ofendeu o avançado belga do Inter, ordenando-o para voltar para os seus vudus.

As palavras do sueco têm origem num antigo boato, que o dono do Everton lançou, quando Lukaku, momentos antes de renovar, voltou atrás com a decisão, porque a sua mãe lho pedira, após ter sido aconselhada por um feiticeiro.

Também no jogo inaugural da CHAN 2021 (campeonato de nações africanas apenas com jogadores que atuam em África), que colocou frente-a-frente a selecção da casa, os Camarões e o Zimbabwe, foi assombrado por um episódio de feitiçaria.

Os camaroneses venceram por um golo de diferença, e no final deste encontro o seleccionador do Zimbabwe Zdravko Logarusic acusou os camaroneses de práticas de feitiçaria (proibidas pela CAF), apresentando uma foto com um morcego morto encontrado no relvado.

A CAF ignorou o assunto, e o Zimbabwe acabou eliminado da fase de grupos sem pontos, e os Camarões, com a ajuda do feitiço do morcego ou não, continuam imparáveis no torneio!

Mais uma vez se provou que este mundo obscuro continua vivo, e as suas aparições permanecem contantes.

No Quénia, um dia, ao verem um cão a urinar numa bandeirola, os adeptos entraram em campo e perseguiram este possível feiticeiro de quatro patas.

Nos Camarões, há quase 20 anos, um técnico e um guarda-redes foram presos por colocaram um ´pó mágico’ e suspeito no campo.

Era prática comum no clube sul-africano dos Kaiser Chiefs um homem colocar uma porção mágica nos postes, enquanto os seus rivais, os Orlando Pirates, mantinham rituais de acordar a equipa à meia-noite para banhos.

Mesmo por cá na Europa ficou afamada a presença de monges tibetanos no Leicester, que benziam tudo e mais alguma coisa, e a verdade é que os Foxes venceram mesmo a liga inglesa nesse ano.
Na nossa região, a quebra de enguiços tem como apelo último: as galinhas pretas.

Se Freamunde é a terra dos capões, bem que Paços de Ferreira poderia ser apelidada como a terra da galinha preta.

A falta de sorte no antigo Carvalhal, em Freamunde, levava a que os pacenses recorressem a esta simpática espécie aviária para virar o destino.

Uma coisa é certa, os resultados não apareceram, mas o campo do Carvalhal já não existe…
A história está recheada destas práticas ocultas, desde os maiores fumeiros, feitos em balneários, aos simples adeptos, que vestem aquela camisola da sorte ou ao jogador que veste a roupa íntima da esposa.

Mas existem dois casos na América do Sul, que vos quero contar para terminar.
O primeiro é sobre o Barcelona do Equador, o maior clube equatoriano.

Em 2011, o clube estava numa enorme crise de títulos, não vencendo um campeonato desde 1997, e eis que um dia o tratador da relva desenterrou do relvado do estádio Monumental, Isidro Romero Carbo, uma garrafa de vinho com uma mixórdia líquida e um boneco vestido com as cores do Barcelona cravado de alfinetes.

De imediato, o presidente do clube, Alfonso Harb, convocou uma conferência de imprensa, segurando a imagem da Nossa Senhora das Dores para expor o assunto, e ordenou uma limpeza geral ao estádio!

Os rumores diziam que tal ritual teria sido levado a cabo por antigos jogadores a quem o clube não pagou...

Rumores à parte, o certo é que em 2012 o Barcelona foi de novo campeão!
Por fim, o caso de Dora, a bruxa de Chascomús. Em 1994, o Quilmes da Argentina estava a brigar com o Gimnasia de Jujuy a subida ao principal escalão argentino, e os directores do clube decidiram contratar os serviços de Dora. O Quilmes necessitava de vencer e esperar a derrota do Gimnasia.

Foi acordado que o Quilmes pagaria 2 mil pesos adiantados, e outro tanto no final. Apesar do Gimnasia ter um adversário fácil pela frente, eles perderam por 3-0 com o Douglas Haig.

No outro jogo, Quilmes contra Morón, este foi suspenso perto do fim, quando o Quilmes vencia por 2-1, e a bruxa apareceu para receber o resto do dinheiro.

Contudo essa verba foi negada e não paga.

 Julgaram os directores do clube que a missão ainda não estava cumprida e assim protelaram o pagamento… para seus azares, dias depois, no restante da partida por realizar, o Morón deu a volta e venceu 3-2. A feitiçaria de Dora virara-se contra o Quilmes e nos anos seguintes falharam várias vezes o acesso à primeira divisão argentina.

Em 2002, o Quilmes estava mais uma vez no play-off de promoção, e a direcção do clube decidiu quebrar o feitiço e ordenou que se pagasse a divida à bruxa.

Infelizmente Dora já havia falecido. Então, em último recurso, foram depositar flores na sua campa.

No jogo decisivo contra o Atlético Rafaela voltaram a perder… A maldição parecia não largar o clube!

Foi então que um adepto do Quilmes percebeu que tinham depositado as flores no túmulo errado.

Tratou de colocar flores no túmulo correcto e fez uma promessa: se o Quilmes subisse, a sua filha, que estava prestes a nascer, se chamaria Dora.

Em 2003 nasceu a filha Dora deste aficionado do Quilmes, e o emblema dos cervejeiros de Buenos Aires subiu finalmente de divisão…
Caso para dizer: eu não acredito em bruxas, mas...

Ricardo Neto

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