22/03/2021, 1:33 h
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Passamos pela vida tão distraídos, tão preocupados com o dia de amanhã, tão atarefados com o trabalho de que não gostamos... que acabamos por perder o melhor que a vida nos oferece.
Acreditamos sempre que controlamos o nosso tempo, adiamos aquela chamada para o dia seguinte, a conversa importante para a semana seguinte... Não abraçamos, não dizemos palavras bonitas ou amáveis, nem tampouco sorrimos.
Os dias parecem todos iguais. O cansaço domina o nosso corpo. A solidão preenche a nossa mente. E o nosso coração... Ah, o coração... esse vai estilhaçando à medida que bate.
Falta-nos sempre algo mesmo quando temos tudo, porque, na verdade, estamos cheios de nada. De coisas que não nos preenchem. De coisas de que não gostamos. De coisas que toleramos porque foi isso que nos ensinaram. Ensinaram-nos a tolerar aquilo de que não gostamos por inteiro, aquilo que não nos alimenta a alma. Não podes ter tudo o que queres, dizem-nos.
Porquê? Por que é que não posso sonhar? Por que é que não posso viver num mundo construído à minha medida? Por que é que tenho de me conformar e tolerar aquilo que não me faz inteiramente feliz e realizada?
Não quero com isto dizer para pedires demissão desse teu trabalho tão chato e mal pago, ainda tens contas para pagar e uma família para cuidar... Não estou a dizer para desistires desse trabalho que te faz chorar em silêncio todas as noites. Não! Não tenho esse direito.
Estou a dizer-te para continuares a sonhar, para continuares a acreditar que a tua hora irá chegar.
Estou a dizer-te que desistir não é sinal de fraqueza ou leviandade, mas de coragem. Desistir das coisas que nos matam diariamente é coragem. Porque se vives para algo que não te arrepia a pele e não faz o teu coração acelerar, vives para quê, afinal?
O que é isso a que chamas «vida», se choras mais do que sorris?
Letícia Brito
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