18/02/2021, 1:02 h
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O espelho funciona como uma janela para a verdade da relação com o nosso corpo. O que vemos, como nos vemos, de que nos rodeamos, que imagem passamos.
A imagem que vemos, por vezes, não é a imagem que os outros vêem. A imagem que vemos, por vezes, não gostamos, desviamos o olhar, evitamos o contacto. A imagem que vemos, por vezes, precisa de ajuda para ser vista com outros olhos, para se tornar mais clara.
Os espelhos têm algo de místico como se revelasse algo escondido. É uma projeção da percepção de nós próprios, do que desejamos ver, do que costumávamos ver e do que tememos ver.
Não nascemos a não gostar do nosso reflexo no espelho por um motivo ou outro. Mas, quando os “espelhos” de que nos vamos rodeando nos tiram os nossos momentos íntimos de confiança, aí entra a autocrítica, o auto-boicote, a dor. Entra a comparação, anulação e rejeição de partes do corpo. Neste processo, a tendência para escolhas não tão benéficas é maior. Entra-se num ciclo vicioso sem saber bem como se poderá restabelecer uma nova conexão, relação com o corpo. Esquecem-se coisas de que se gosta sendo estas substituídas pela adrenalina das tarefas infindáveis do dia-a-dia. O excesso de responsabilidade e a procura constante desta rouba o tempo para êxtases, repousos e improvisos.
Há um grande ponto a favor que várias vezes desperdiçamos. A imagem não é estanque. Todos os dias pormenores mudam. Todos os dias há espaço para uma desconstrução e reconstrução. Todos os dias, há mais uma parte que descobrimos, que vemos refletida, que temos percepção. Tudo muda consoante o contexto, timing e companhia. Tudo muda consoante as nossas escolhas.
A dificuldade está em tomar a decisão. A dificuldade está em ter potencial de ação, em iniciar, em agir. É nesta fase que precisamos de uma mão que nos reduza o medo de nos vermos ao espelho, que nos ajude a confrontarmo-nos e que nos oriente nesse (re)início.
Descobrindo todas as partes do corpo desenvolvendo a consciência para a sua rigidez e flexibilidade, a sua capacidade de contrair e relaxar, o contacto com o corpo físico melhora, a auto-imagem melhora. Observando o corpo, identificando com que estilo de vida é que ele se potencia, estamos a reformular a relação com o corpo.
Com base em três pilares, respiração consciente, alimentação consciente, movimento consciente, estabelecemos uma relação de harmonia com o nosso corpo. Aprendemos a ouvi-lo e respeitá-lo construindo uma relação com ele.
Parece estranho como é que o corpo somos nós próprios, como é que estamos todos os dias com ele, o usamos, esperamos que ele esteja bem e que faça tudo o que queremos e, na verdade, estamos desconectados dele a maior parte do tempo. Não conhecemos parte do corpo, não o vemos e limitamo-nos a olhá-lo de relance, não o mexemos de forma diferente da rotina diária, não nos apercebemos que respiramos mal ou tomamos imensos cafés para estar sempre com energia. Até surgir uma dor, uma disfunção, uma doença. A dor surge quando o corpo já não é capaz de fugir mais.
O espelho funciona como uma janela para a verdade da relação com o nosso corpo. De que vale fugir de espelhos?
Marta Gomes
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