21/01/2021, 16:48 h
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Quando apresentaram a Jesus a mulher adúltera, os fariseus e os escribas sabiam perfeitamente que a condenação que queriam para aquela mulher não poderia ser realizada.
Jerusalém e toda a Judeia estavam sob domínio do Império Romano, e apenas o representante de Roma tinha o poder de julgar este tipo de crime.
Os judeus, com esta mulher, apenas queriam montar uma armadilha para Jesus.
Se Jesus a absolvesse, estaria a desrespeitar a lei de Deus (Torá), mas se Jesus a condenasse estaria a violar as leis de Roma, criando a insurreição.
O verdadeiro julgado neste momento do Evangelho de São João era Jesus, e não a mulher.
Jesus perante esta armadilha, e enquanto escrevia no chão disse a todos os presentes: ‘’ Quem dentre vós não tiver pecado, atire a primeira pedra!’’, e um por um afastaram-se todos, não por se considerarem verdadeiros pecadores, mas porque Jesus, ao invocar o novo mandamento do amor, do perdão e da caridade, os destronou com algo inesperado!
Jesus na sua mensagem amava verdadeiramente todos, sem excluir ninguém, e não se movia por qualquer outro interesse.
O facto de nunca se ter comprometido com nenhum dos interesses instalados acabou por o levar à sua morte na cruz.
Mais fácil seria apedrejar aquela mulher e tornar-se no líder que os judeus ansiavam para se libertarem dos romanos..
Amor, perdão e caridade! As palavras que Jesus trouxe à nossa civilização, e que são hoje a base das democracias modernas.
A igualdade entre todos, o arrependimento e a defesa dos mais desfavorecidos são ainda pilares de muitas constituições pelo mundo.
Mas estes princípios são muitas vezes atacados por líderes que semeiam a divisão e o ódio, e que muitas vezes se intitulam de ‘’enviados de Deus’’…
Mas porque enviaria Deus alguém que contaria a história do filho pródigo, na qual o pai deixaria de amar o seu filho, e ao vê-lo regressar o renegaria? Porque Deus enviaria alguém que, ao ver uma multidão com fome, os mandaria trabalhar?
Portugal vive um período eleições presidenciais, e ao invés de vermos debate de ideias projectando o futuro, assistimos ao constante ressurgir de impropérios medievais.
E tal como na história da mulher da adúltera, mais do que ataques às mulheres, às minorias, aos migrantes e outros, estes ataques colocam no lugar de Jesus a nossa democracia como visada.
Os fariseus e os escribas de hoje trazem todos os dias para a praça aqueles que eles consideram não serem de bem, para então serem apedrejados!
Contudo eles sabem que não o podem fazer (ainda), e deixam nas mãos não decepadas da democracia o parecer final.
Enquanto a democracia, representada por todos nós, souber responder com os seus princípios basilares, os fariseus e os escribas pousarão sempre as suas pedras, e abandonarão a praça, indo á procura doutra pessoa ou grupo que, aos seus olhos, sejam prevaricadores ou pecadores e, acima de tudo, passível de julgamento popular irreflectido.
No próximo dia 24 haverá eleições nesta jovem democracia imperfeita.
Numa espécie de julgamento, ser-nos-á dada a oportunidade de libertar, através do boletim de voto, uma mulher ou um homem que nos liderará nos próximos 5 anos.
Nesse momento, não podemos ser como aqueles que perderam a esperança, e preferiram libertar Barrabás em vez de Jesus.
Se soltarmos Barrabás e crucificarmos a democracia, ela até pode ressuscitar de novo, mas da última vez que a democracia foi colocada no sepulcro, ela só saiu de lá 48 anos depois!
Libertem a democracia!
Ricardo Neto
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