05/09/2020, 1:22 h
69
A crescente presença e exigência de mulheres na política, diga-se, com excelentes resultados, como é verificável pelo caso da gestão da crise pandémica em países como a Islândia, a Alemanha, Twain e a Nova Zelândia, é uma conquista recente da democracia e que teve nas lutas feministas dos anos 60 e 70 um dos seus mais importantes marcos.
O anúncio de Kamala Harris para o cargo de vice-presidente de Joe Biden é, por isso, uma afirmação desta mesma necessidade e o resultado de muitos anos de luta, independentemente de todos os seus méritos (e são muitos) pessoais e profissionais, que contrasta com toda a narrativa misógina e sectarista de Trump. Aliás, a extrema-direita, muitos regimes autoritários de extrema-esquerda e os governos fundamentalistas de cariz religioso, tradicionalmente relegam as mulheres para planos secundários. Tal repercute-se na forma como estes encaram a violência doméstica, desvalorizando a sua importância e sendo condescendente com comportamentos agressivos dos homens para com as mulheres, na forma como relativizam a violência sexual sobre estas, no considerarem o corpo feminino como se de bem público se tratasse onde a autonomia feminina estará condicionada e no papel subalterno que lhes dedicam na sociedade.
A origem de tais práticas e conceções é muito ancestral e multifatorial, atravessando toda a Antiga Grécia e perpetuando-se até à atualidade. Assenta, numa determinada superioridade masculina que lhe advém de uma suposta maior força física e dos papéis que tradicionalmente cada um estava e está obrigado a cumprir e, até, no caso dos países marcados pela influência da religião católica, num equivoco que faz querer que Jesus de Nazaré desvalorizava o papel das mulheres na sociedade quando, na verdade, as pessoas mais importante da sua vida foram mulheres, nomeadamente a sua mãe, irmã e Maria Madalena, esta considerada pelo Papa Francisco a apóstola dos apóstolos.
As mulheres para se libertarem do jugo dominador do poder masculino têm que afirmar a sua própria cultura, a sua visão do mundo, o que de resto está a acontecer em muitas dimensões de que é exemplo o desporto com a rápida e crescente importância do futebol e do basquetebol feminino e da popularidade dos desportos de luta cujas protagonistas são as mulheres. Cabe a estas libertarem-se dos papéis, dos estereótipos que socialmente lhes estão associados e que ditam papéis sociais. A melhor forma de o fazerem é assumindo as rédeas do poder, preenchendo os lugares de decisão. Neste sentido, será importante que as próximas eleições autárquicas, neste e em todos os concelhos, sejam um cenário marcado pela presença de mulheres com capital profissional e provas dadas na sua profissão, de espírito empreendedor, envolvidas na comunidade, com experiência política ou que nesta se queiram implantar (e aqui as juventudes partidárias e os seus elementos femininos devem ter uma palavra a dizer) mas que, sobretudo, tragam para a política uma visão diferente e complementar à masculina, androcêntrica e dominante para desta forma se alcançar a unidade na diferença e preservar a diferença na unidade, complementando-se as diferentes visões e obtendo-se melhores políticas concelhias.
Marcos Taipa
Assine Gazeta de Paços de Ferreira
Assinatura anual 20,00.
Opinião
17/08/2025
Opinião
13/08/2025
Opinião
11/08/2025
Opinião
10/08/2025