05/04/2021, 1:44 h
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No passado dia 24 de Março, a ONU lembrou pela décima vez o Dia Internacional pelo Direito à Verdade sobre as Violações dos Direitos Humanos e pela Dignidade das Vítimas.
Este dia, estabelecido em 21 de Dezembro de 2010, tem como principal objectivo reconhecer as violações perpetradas contra os direitos humanos, renovando um compromisso com a justiça e procurando evitar e eliminar estas recorrentes práticas criminosas.
António Guterres, Secretário-Geral das Nações Unidas, na sua mensagem deste ano reafirmou que’ ’reconhecimento, justiça e prevenção só podem começar com a descoberta e o reconhecimento dos fatos’’, e concluiu dizendo “sem verdade, não pode haver justiça ou reparação.”
O mundo vive continuamente ignorando o sofrimento dos povos mais pobres, porém, existe sempre alguém, que usa a verdade para denunciar os crimes horrendos, que se vão praticando contra aqueles a quem a pobreza e a miséria lhes nega o direito a ter uma voz para gritar ajuda.
O mais recente caso é a situação na região norte de Moçambique.
Forças militarizadas ligadas ao estado islâmico têm colocado toda esta região, e em particular a província de Cabo Delgado, num clima de terror desumano.
Os conflitos com estas forças rebeldes iniciaram-se em 2017 e contam já com mais de 2 mil mortos, e mais 600 mil pessoas deslocadas, que tiveram de deixar as suas aldeias após verem seus familiares serem cruelmente massacrados.
No meio de todo este clima de guerra, de violência e horror, uma voz emergiu para contar ao mundo a verdade sobre estas violações dos direitos humanos.
Essa voz foi a voz de Dom Luiz Fernando Lisboa, Bispo de Pemba (agora Bispo de Cachoeiro, Brasil).
Ele foi a voz que se levantou e com ajuda do Papa Francisco deu a conhecer esta cruel verdade.
O Bispo que pediu ao mundo soluções para esta guerra e para esta crise humanitária afirmou um dia: ‘’nós trabalhamos com as pessoas concretas, que têm dificuldades, que passam por violências, por limitações, que têm necessidades.
Então, a Igreja em qualquer lugar, ela vai levantar a sua voz e, nalgum momento, ela vai ser a voz daqueles que não têm voz”. A sua voz passou a ser ouvida, e agora que todos sabemos a verdade é necessário actuar.
Hoje Portugal preside à União Europeia e a este facto soma-se uma responsabilidade moral e afectiva com Moçambique, pelo que se exige a Portugal uma actuação mais vigorosa e célere.
Curiosamente, este dia pela verdade instituído pela ONU, teve origem num outro homem que foi a voz daqueles que também não tinham voz, o Arcebispo salvadorenho Dom Óscar Romero.
Após o golpe das forças de extrema-direita militar em 1979, o pequeno país de El Salvador ficou subjugado a um regime ditatorial, que, para além de combater as forças de extrema-esquerda, criou um ambiente de tortura, perseguição e morte sobre as populações.
No meio deste terror, estava Dom Óscar Romero, um homem que via a salvação da Igreja na sua identificação com os pobres.
E morte após morte de pessoas inocentes, entre os quais alguns dos seus sacerdotes, Dom Óscar Romero levantou a sua a voz contra o regime, defendendo aqueles que ele amava: os pobres.
As suas homilias denunciavam todo o sofrimento que devastava aquele povo, e assim a sua voz tornou-se incómoda.
E a 24 de março de 1980, enquanto rezava pelas vítimas, Roberto D’Aubuisson um ex-militar do partido do regime, assassinou-o com um tiro.
Assim, como Jesus, também Óscar Romero foi morto apenas por amar o próximo.
Em 2018, o Papa Francisco canonizou este mártir da Igreja, e o tornou São Óscar Romero.
E como estamos no período da Páscoa, termino com as palavras de São Óscar Romero proferidas a 30 de janeiro de 1980:
“O maior perigo diante de tanta violência é que fiquemos insensíveis. Eu tento pensar diante de Deus que um só morto representa uma grave ofensa e que, todas as vezes que um homem ou uma mulher morre, é como matar novamente Jesus Cristo “.
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