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Gazeta Paços de Ferreira

26/09/2020, 22:19 h

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Homenagear gente pouco importante…

Atualidade

Recordo-me de um livro que fazia parte do programa de história económica e social do meu 2º ano de licenciatura e que tinha por título “História da gente pouco importante” de José Andrés Gallego. Este livro centra-se, essencialmente, no apelar para a importância dos aspetos históricos que os grandes e tradicionais manuais da história tendem a desvalorizar. Ora, esta obra e o seu título inspirou-me no tema que pretendo abordar. E este refere-se à importância de se homenagear as pessoas e aquilo que cada terra tem de mais marcante, que mais as definem e estruturam a sua identidade.  Isto é, refiro-me aos atores e factos fundamentais na história e dinâmicas de uma terra e que marcam a sua memória coletiva. Isto não significa que não se deva, igualmente, homenagear as “pessoas importantes ou feitos importantes”. Estes devem ser reconhecidos, pois são, antes de tudo o mais, uma forma de se criar referências junto de uma sociedade e premiar o mérito. Mas essa é a propensão natural dos poderes públicos. No entanto, talvez se deva mudar, por vezes, o enfoque e passar a homenagear aquilo que realmente é autêntico, central e que faz uma terra transformar-se todos os dias e cada um dos seus habitantes e em que a grande maioria das pessoas, também elas supostamente pouco importantes, se revê. Tendo já vivido em 4 freguesias diferentes deste concelho, consigo facilmente – obviamente que mais facilmente o farei na terra que me viu nascer e fazer, isto é, em Freamunde – identificar em cada uma delas símbolos, significados e, sobretudo pessoas, que em cada uma destas representam o seu verdadeiro património identitário, e no entanto, não fizeram nada aparentemente de relevante, de extraordinário, mas que são o verdadeiro pulsar daquelas. Frequentemente até são pessoas com vícios públicos que são alvo de estigma e desdém, mas que não prejudicam ninguém para além de si próprios e que compensam com o amor à terra, a disponibilidade aos outros, com o seu sentido de coletivo e como tal são símbolos de coesão comunitária e que encarnam os valores daquela terra. Trata-se de vidas simples, mas extraordinárias das quais rezará a história daquelas comunidades e a sua memória coletiva e que foram capazes, até em muitos casos, de alterarem as trajetórias dos restantes habitantes daquele meio, ou pelo menos os seus valores e atitudes.

Assim, por que não se edificar esculturas, valorizar-se símbolos e criar-se momentos de homenagem a “pessoas pouco (muito) importantes” que representam todos e cada um de nós sem deixar de continuar a homenagear pessoas autoras de feitos e percursos de vida relevantes?

Marcos Taipa Ribeiro

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