Reprovar ou não reprovar …eis a questão!!!
Não, de facto não sou especialista em ciências da educação, nem tão pouco conhecedor das supostas revolucionárias teorias que defendem que as reprovações até ao 9º ano – não percebendo o porquê desta fronteira – são inócuas e até iníquas. Mas sim, sou um estudioso do comportamento humano que faz deste objeto do saber o seu quotidiano profissional, o qual articulo com o conhecimento da realidade em concreto, quer como docente há mais de 15 anos, quer como profissional do comportamento. É precisamente nesta perspetiva que passarei a analisar a recente proposta, ou possibilidade, dos alunos passarem a não reprovar até ao 9º ano de escolaridade.
A minha questão é, desde logo, que, sendo o comportamento humano regulado pelas suas consequências e como tal sendo a partir destas que vamos organizando os nossos comportamentos, onde vão os alunos procurar a motivação para integrarem as aprendizagens necessárias se não houver a sanção da reprovação? Até porque, as motivações internas, são, na maior parte dos alunos, uma falácia. A afeição ao saber não emerge de “geração espontânea” mas surge, em poucos casos, a partir de um processo de socialização que fomente essa afeição - próprio das classes mais qualificadas – ou então, surge, na maioria dos casos, a partir do reforço positivo que é atingirem a gratificação de ultrapassar um obstáculo, de socialmente e familiarmente o aluno ver reforçado o seu esforço e inteligência. E qual a sanção ou mesmo reforço negativo? Não havendo nenhuma, não havendo espaço a reprovações, como se motiva um aluno, especialmente os alunos com mais dificuldades de aprendizagem?
O anular a meta, anular o objetivo de
passar de ano escolar implica extinguir o mais importante preditor, o mais importante mecanismo orientador do comportamento humano, ou seja, a tentativa de maximização de ganhos por parte dos alunos.
E para além do aspeto exclusivo da aprendizagem, como pode a escola ajudar a promover um auto conceito, um conceito de auto-eficácia e auto-estima positivos junto dos discentes se são abolidos os desafios que ao serem ultrapassados permitiriam os jovens irem aumentando a sua confiança e estruturarem uma identidade pessoal e social positiva?
A esta altura o leitor estará a pensar…”
Ok…tudo isto poderá estar muito bem quando aplicado aos jovens oriundos de famílias estruturadas, com algum ou muito capital escolar e/ou cultural …” Não! Abolir as reprovações é enganar os jovens com piores resultados escolares, sobretudo os das classes sociais mais vulneráveis. É desistir deles, é fomentar uma espécie de “simulacro de sucesso” onde o mérito não é premiado nem a motivação para a aprendizagem fomentada e em que a conclusão do 9º ano seria equivalente à obtenção de um diploma sem a correspondência de saberes.
Dir-me-ão que o facto de uns não reprovarem não implica que os outros não sejam reforçados com os bons resultados. Talvez, mas seriam criados verdadeiros “guetos” nas turmas com uma espécie de primeira e segunda divisão para além de que haveria o forte perigo das turmas verem ainda mais degradados o ambiente e comportamento dentro da sala de aula.
Qual a solução ou a alternativa?
Se a preocupação é promover-se a igualdade de oportunidades, é fomentar-se a equidade social, então a solução passa por um forte investimento na educação, com turmas que agreguem ótimos, bons e alunos fracos mas de pequena dimensão (15 alunos no máximo) que em alguns casos possa mesmo ter na sala 2 professores em que 1 seja uma espécie de tutor de estudo acompanhado e em que os alunos de excelência sejam premiados por promoverem o sucesso dos alunos com dificuldades, implicando estes neste processo.
Sim, e mesmo assim teremos sempre alunos que não querem a escola, que a rejeitam e com os quais será impossível trabalhar. Claro que sim, então reformule-se a formação profissional, sem ambiguidades, demagogia e “faz de conta” com uma verdadeira aprendizagem em contexto de terreno, apoiando as empresas que recebam os estagiários e em que se privilegie o saber fazer face ao saber teórico abstrato, disponibilizando uma parte do dia para o saber fazer e uma parte menor para o saber teórico na relação direta com a dimensão prática.
Marcos Taipa Ribeiro
Sem “chumbos” até ao 9º ano de escolaridade – Porquê?
A tutela supostamente pretende, com a medida de “não reprovação” até ao 9ª ano de escolaridade, ter como objetivo eliminar, de forma administrativa, a figura da retenção, desenhando-se um programa “que assente em medidas pedagógicas” que promovam a “aprendizagem de forma mais individualizada, visando a progressiva redução das retenções”.
Face a estes factos apresentados, não posso deixar de afirmar que a tutela parece desconhecer por completo o que de bem e melhor é realizado pelos professores, dentro e fora do seu horário de trabalho, em prol do sucesso escolar dos (Seus) alunos, por quem tudo fazem para que o “impossível” seja uma realidade. O Professor, como pedagogo que é, vive diariamente com os seus alunos e, frequentemente, conhece-os bem melhor do que qualquer outra pessoa.
Eliminar as reprovações pode ser considerada uma boa decisão? E que consequências daí advirão? Que motivações mobilizarão os alunos a estudar? Há, apenas e de imediato, certeza de que, com esta medida, os cofres do Estado retêm milhares de euros, ou seja, independentemente das consequências graves para o futuro dos alunos e para a restante vida profissional que se avizinha, o Estado deixa de gastar (ou desvia para outros fins) milhões de euros com essa medida.
Ao “obrigar” a passar administrativamente todos os alunos, independentemente dos conhecimentos adquiridos e das suas capacidades de aprendizagem e retenção do saber, o Estado obtém uma “poupança” anual de 250 milhões de euros!! Para os menos informados, a reprovação de UM aluno representa um custo de 5.000 euros. Se extrapolarmos para os 4 anos de legislatura do atual governo, o valor poderá ser de mil milhões de euros, ou se preferirem, um bilião de euros!! Mas que lhes importa? É “apenas” a vida de pessoas e respectivo futuro que está em causa – e alguém, depois, no futuro, deverá resolver o problema. Algo a que esta governação já nos habituou!
Acrescente-se, a este triste e deplorável panorama, que há a obrigatoriedade de todos os jovens estudarem até aos 18 anos de idade, privando-os, muitas vezes e contra a respectiva vontade de cada um, de enveredar por profissões e especialidades técnicas que, cada vez mais, são essenciais ao nosso quotidiano. Quem não sentiu já a dificuldade em arranjar, por exemplo, um eletricista, um canalizador, um soldador, entre outros? Concerteza que o leitor, como muitos de nós, de uma ou duas gerações anteriores e que experimentaram essa possibilidade, conhecem pessoas que, com essas e outras artes, foram e são bem sucedidos na vida.
Como docente há mais de 30 anos, como mãe, como cidadã portuguesa, deveras preocupada aguardo, apreensiva, os resultados das políticas do facilitismo que o PS tem implementado na sociedade, nas mais diversas áreas.
Uma coisa é certa, o “barato vai sair muito caro”! E esta é uma afirmação que, com tristeza e profundo lamento, reitero!
Paula Gonçalves