18/01/2021, 19:57 h
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O fim de cada ano é tempo de reflectir e expressar desejos. Esta minha vida (tal como a sua, leitor/a) é a primeira (e será a única) experiência que temos de viver. Nesta vida de onde ninguém sairá vivo, todos somos observadores de passagem. Não voltaremos atrás para emendar erros descobertos tardiamente. Temos a responsabilidade de deixar obra positiva para ser continuada pelos vindouros, e os nossos filhos e netos terão de actuar de modo a deixarem, aos seus filhos e netos, mais esperança no futuro e menos vergonha do passado.
Eu tenho vergonha das guerras. Nasci no decorrer de uma que deixou marcas impossíveis de retirar: o holocausto judeu de uma desumanidade inultrapassável, e a destruição atómica do Japão.
Eu tenho vergonha de o meu país ter enviado a juventude da minha geração para um conflito colonial vergonhoso… e fui vítima dessa atitude do ditador Salazar.
Eu tenho vergonha dos governos que destroem a economia do Estado, o ensino público e a saúde pública, com a intenção camuflada (ou mesmo escandalosamente escancarada) de os privatizarem, com a consciência de que a privatização de serviços essenciais é sinónimo de especulação e exploração do Povo desarmado e desmotivado de lutar.
Eu tenho vergonha de o meu país ter governantes defensores das privatizações em benefício de entidades particulares contra os legítimos interesses de todos nós, explorando recursos vitais, como são a água, a energia, as telecomunicações e os transportes, servindo-nos mal e facturando bem.
Eu tenho vergonha das chamadas EPP (Empresas Público-Privadas) que foram criadas por maus políticos que privilegiam entidades particulares com dinheiro público.
Eu tenho vergonha de a maioria do povo dos EUA ter eleito para presidente daquele país que é tão poderoso na geopolítica, um energúmeno inculto, vaidoso, estúpido, arrogante e ameaçador, desrespeitador da Natureza e de toda a Humanidade.
Eu tenho vergonha de a Política, que deveria ser a nobre arte de governar (bem) os povos, se vergar aos interesses da Economia e da Alta Finança empobrecendo o Povo, permitindo que nos roubem legalmente.
Eu tenho vergonha do desvio de dinheiro público para tantas fundações e observatórios que se contam às dezenas (centenas?) e ninguém sabe para que servem senão para receberem dinheiro do Estado, enquanto morrem à míngua idosos com reformas miseráveis.
Eu tenho vergonha de o Estado permitir a exploração de auto-estradas que foram construídas com dinheiro público e cuja cobrança dos utilizadores foi entregue a entidades privadas, sendo o Estado obrigado a pagar ao privado se as receitas não alcançarem a verba estimada de lucro.
Eu tenho vergonha de viver num tempo de desonestidade permitida por lei, e ver os tribunais em silêncio perante tanta falta de sentido de Estado.
Eu tenho vergonha de não encarcerarem os políticos que permitem vida desgraçada a quem trabalha, e vida folgada a quem explora os trabalhadores e foge aos impostos!…
Sei que em 2021 vou continuar a sentir vergonha, porque a globalização foi concebida para se poder explorar, mais eficazmente… os globalizados. Apesar disso… tentem ser felizes.
(O autor não obedece ao último Acordo Ortográfico)
Onofre Varela
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