Por
Gazeta Paços de Ferreira

14/05/2021, 23:00 h

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CORRUPÇÃO, ANOMIA E REAÇÃO MORAL

Marcos Taipa

A corrupção, para além de toda a dimensão económica ou do prejuízo que causa a um país, mormente, provocando o seu empobrecimento e subdesenvolvimento, tem um efeito catastrófico no que se refere à coesão social e estruturação de uma nação enquanto comunidade  de pertença. 

A corrupção tem um efeito de degradação dos valores, dos pilares, das crenças de uma nação, da sua identidade. Sempre que acontece e é conhecido um caso destes perpetrado por parte daqueles que deveriam ser os primeiros a evitá-la, são as normas que regem uma sociedade que ficam postas em causa, fazendo com que um povo seja assaltado por um sentimento de perda e de desregulação, vendo-se sem farol, passando a, paulatinamente, temporalmente ou mesmo estruturalmente a desacreditar no sistema que o rege. Os valores coletivos passam a ser postos em causa e o individualismo egoico ganha adeptos.

Este é um fenómeno que a sociologia apelida de anomia social e pode mesmo levar à implosão de um regime, o que de resto está retratado em mais do que um momento da história de Portugal.

Se assim é, também é verdade que uma ação política de combate à corrupção, baseada na reação social, feita sob a pressão da opinião pública e publicada, é sempre o pior momento para a fazer. No caos, no meio da reação social irracional, do natural sensacionalismo alimentado pelas notícias, os políticos são pressionados para fazerem, à pressa, aquilo que podiam e deviam ter feito com a serenidade e tempo necessários. O povo reclama sangue, e sangue é preciso fazer. Nada que desde a Roma Antiga não seja a resposta natural às reações da população face a algo que atinge a coesão e a ordem social estabelecida. Isto é, cria-se uma situação de pânico moral que obriga a que os legisladores reajam rapidamente, de qualquer forma e, frequentemente, de forma pouco cuidada e racional, mas sobretudo de maneira emotiva.

Os políticos acossados por este sentimento popular de injustiça, no caso concreto justificado, vão apressar-se a agir e reagir, legislando rapidamente no sentido de penalizar a corrupção. Mas, sobretudo, com o intuito de se acalmar o ímpeto popular e a comunicação social.  A partir daqui assistimos a uma cruzada legislativa para se acalmar a reação popular, fazendo-se crer que as práticas e os costumes vão mudar, deitando-se “água na fervura”, mas de forma atabalhoada, fazendo a vontade aos histerismos populistas através da aprovação de leis que atentam contra as liberdades individuais ou que são, por vezes, até, puramente inócuas.

O tempo é bom conselheiro, não pode é ser motivo para nunca se decidir sob pena de na aflição decidir-se mal.

Marcos Taipa

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