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Gazeta Paços de Ferreira

08/05/2021, 1:07 h

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A casa da Liberdade

Opinião

Um dia a Mesquita Şehzade, na Turquia necessitou de restauros. Os arquitectos foram chamados, e deparam-se com alguns problemas com as arcadas. Apesar de não saberem exactamente como as restaurar, deram inícios aos trabalhos preparatórios, e eis que encontraram uma garrafa de vidro entre duas pedras, que continha um papel. Aberta a garrafa, encontraram um documento escrito por Mimar Sinan, o arquitecto do Império Otomano do seculo XVI que fora responsável por esta mesquita entre outras centenas de obras, sendo considerado um dos maiores arquitectos da história mundial.

Mimar Sinan escreveu que a vida daquelas pedras era de 400 anos, e que nessa altura seria necessário restaurar os arcos, e que muito provavelmente não iriam saber como fazê-lo, por isso decidiu escrever aquele documento explicando como o fazer.

Apesar de possuir contornos de mito urbano, esta peculiar história ensina-nos que ninguém melhor para nos explicar como devemos fazer um restauro e dar continuidade a algo, que o próprio autor.
Também é assim que devemos pensar e agir, quando pensamos no 25 de Abril.

Daqui a 3 anos, o dia que me permite escrever aqui livremente, comemorará o seu cinquentenário, e talvez seja a hora de rever e de fazer alguns restauros.

Felizmente não será necessário procurar por entre as pedras, uma garrafa com instruções. Os seus ideais estão bem presentes na memória de quem o viveu do lado da democracia, e estão presentes nas canções, nos poemas, e nas prosas de quem lutou contra um regime que nos afastou do desenvolvimento e do avanço cultural do mundo.
Passados 47 anos, a democracia estabelecida pelos militares naquela madrugada que fez o sol nascer igual para todos, continua com imperfeições. Ainda existem ‘’bairros negros’’ onde não há pão, e ainda há ‘’vampiros’’ que sugam o sangue da manada. Mas se queremos continuar a obra edificada com a luta e com a sangue dos portugueses que souberam dizer não à ditadura, devemos escuta-los e dar continuidade ao seu sonho, que também é o meu sonho, o sonho dum país livre, agregador e democrata. Não entreguemos a chave da democracia a quem se alimenta das fissuras nas paredes da democracia, ou a quem vive sempre à espreita para deitar abaixo o que a democracia levantou.
A casa da liberdade não é um palácio para apenas alguns viverem, a casa da liberdade é uma casa que abriga todos. A casa da liberdade é sólida, e mais sólida é a razão que a sustém!
Agora, se não se importam, vou ali colocar estas e outras frases numa garrafa, para depois a cimentar numa arcada da casa da liberdade, para que no futuro saibam como dar continuidade à democracia. E aproveito algum cimento sobrante para tapar um dos buracos desta casa imperfeita e inacabada, para que o lobo que ali está a espreitar, continue a soprar sem sucesso, porque aqui ao leme sou mais do que eu, sou um povo que quer a liberdade!

Ricardo Neto

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