Por
Gazeta Paços de Ferreira

05/03/2021, 13:56 h

92

A DEMOCRACIA NÃO SE PODE CONFINAR!

Marcos Taipa

Em que é que a democracia está relacionada com o confinamento?

Em tudo e em nada!

Numa análise mais abstrata, apelidemos a mesma assim, já que não a poderei, pretensiosa e injustamente, chamá-la de teórica, pois, a ser assim, exigiria muito mais do que aqui escreverei, diria que a democracia deverá ser o contrário exato daquilo que representa o confinamento.

A democracia, enquanto sistema de organização política, cujas origens remontam ao ano 508 a.C., representa a possibilidade da abertura, da participação e da negação da tirania.

 O, “inevitável”, confinamento, pelo contrário, é coercivo!

A democracia é a capacidade de empatizar com o outro, onde se incluí o adversário, e de o aceitar nas suas diferenças, integrando os seus pontos de vista nas futuras opções políticas, e desde que aqueles revelem pontos de convergência com as opções ideológicas de quem exerce o poder.

 O confinamento é a dificuldade de nos relacionarmos com o outro, de adotar o seu ponto de vista e nos colocarmos no seu lugar.

A democracia é a capacidade de traduzir uma parte num todo e as várias partes num diálogo convergente entre desiguais, desde que não contrários.

Por isso mesmo, as forças democráticas devem estabelecer pontos de interseção entre si e, relativamente às forças antidemocráticas, devem combatê-las, em uníssono,  através da demonstração de que essas forças representam a antiempatia, representam o confinamento.

Assim, os democratas devem tratar bem os seus pares e ainda melhor os seus adversários, os quais, mesmo não comungando da plenitude dos seus planos ideológicos e de ação não deixam de ter o direito à diferença de opinião, pois, no fim, no fim resta-nos a democracia.

O confinamento é a assunção do nada, do fechamento sobre nós mesmos, da afirmação do “eu” isolado, em contraposição à possibilidade que a democracia nos oferece de transformação de impulsos primários e negativos em capacidade construtiva de estabelecer pontes.

O confinamento é a necessidade de seguirmos o caminho único, o caminho da necessária submissão a regras e normas face a objetivos maiores.

 A democracia é a glorificação dos vários caminhos, do pluralismo dos discursos, da afirmação do diálogo entre posições diferentes.

O confinamento obriga, ainda que temporariamente, ao adestramento dos corpos e das mentes. 

A democracia significa a possibilidade da libertação dos pensamentos e das pulsões, sublimando-as em algo positivo para o bem comum.

O confinamento é a tribalização dos hábitos, do quotidiano, da proteção do eu e dos nossos entes.

A democracia, ao invés disto mesmo, deve ser a representação da abertura e do diálogo com os outros, com as forças democráticas e com o povo.

O confinamento é, por definição, a tentativa de obstaculização da circulação do vírus.

A democracia não pode ser a transformação da ação política numa espécie de condomínio fechado, que se transforme numa barreira à diferença de opinião, um obstáculo ao exercício da própria democracia.

O confinamento significa a imposição de regras sanitárias, como forma de controlo de uma pandemia.

A democracia implica a convivência com a diferença, e não o desprezo desta. Implica a abolição de cercas sanitárias, onde não caiba só a nossa verdade, mas, pelo contrário, onde, pelo confronto de argumentos, se possa esclarecer os adversários e as populações acerca das propostas políticas em causa.

O debate e a ação política não se faz de ingenuidade tática, mas, também, não se pode, nunca, fazer da desfiliação com o outro e com a oposição, desde que democrática.

Marcos Taipa Ribeiro

https://youtu.be/HBhq_Oh4C3U

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