12/12/2020, 18:31 h
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É chorudo o prémio anunciado, pelo que inúmeros concorrentes, oriundos de várias partes do mundo, se perfilam para competir. É tido como certo que o primeiro a cortar a meta usufruirá dum pecúlio imenso, e – pasme-se! – os pagantes ainda lhe agradecerão. Além disso, tratando-se dum evento de nível planetário, só equiparável aos jogos olímpicos da Grécia antiga, até os governos se envolvem na disputa, colando-se ao previsível herói.
Perfilam-se, como favoritos, chineses, russos, americanos e ingleses, todos superequipados com modernos instrumentos a manusearem ingredientes secretos capazes de os colocarem na vanguarda. Nesta disputa vale tudo – como na guerra – o que leva as partes beligerantes a deixarem estrategicamente os valores éticos à porta, nada mais lhes importando senão a vitória.
No interior de laboratórios de acesso restrito, manuseiam-se vírus, vivos, armas letais com potencial para liquidar a humanidade inteira. Com a pressa, do Oriente ao Ocidente movimentam-se todos na corda bamba, analisando os bichinhos que colocam nas lamelas, rezando para que não escapem para o exterior, infetando o mundo com uma praga nova. Contudo, se daí resultar qualquer maldita nova pandemia – paciência! – culpa-se um país qualquer pela desgraça, chamando-lhe nomes feios antes que ele lhes chame algo pior.
É o jogo do tudo ou nada, da invenção de receitas seguida da elaboração imediata de produtos, cozinhando-os em lume rápido para chegar aos fregueses antes da concorrência. E se se der o caso de haver empates no término das respetivas cozeduras, há que convencer o mundo de que o nosso cozinhado é de maior confiança que o dos adversários. Pode-se, se necessário for, fazer mesmo circular notícias falsas nas redes sociais, e esperar que cidadãos anónimos multipliquem a mentira de que chineses e russos não são de confiança, que os americanos é que dizem a verdade e, por arrastamento, todos os não americanos ou não ocidentais passarão por trapaceiros e impostores.
A competição avança no terreno e a meta encontra-se à vista. Correu tudo como se previu desde o início, usando-se, sempre que tal se afigurou importante, uma mãozinha invisível para corrigir indesejáveis desvios. Há uma parceria entre os dois lados do Atlântico, a Europa e os Estados Unidos, que ocupa a pista da prova em toda a sua largura, impedindo que alguém ultrapasse os seus atletas protegidos. Os árbitros são da casa, e não vão atender aos protestos dos concorrentes vindos doutras latitudes.
Anuncie-se o vencedor!
Joaquim António Leal
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