18/02/2021, 1:00 h
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No primeiro capítulo do livro de Génesis, ao sexto dia Deus criou o homem e a mulher à sua imagem. No segundo capítulo, enquanto Adão dormia, Deus retirou-lhe uma costela e fez a mulher, Adão ao ver Eva disse: ‘’Esta sim, é osso dos meus ossos e carne da minha carne’’.
A ordem como estas duas referências bíblicas ocorrem no livro de Génesis, e a reacção de Adão ao ver Eva, deram espaço à criação do mito de Lilith, a primeira mulher.
Apenas referida em alguns livros apócrifos (não aceites na doutrina cristã), Lilith teria sido criada no sexto dia ao mesmo tempo que Adão. Ambos eram independentes, e nenhum era submisso ao outro.
Com o passar do tempo Lilith manteve o seu caracter autónomo em relação a Adão, nunca se submetendo à sua vontade, até que um dia abandonou o Paraíso tornando-se num demónio.
Adão voltou a ficar só, e então Deus criou Eva, uma mulher que o auxiliaria e lhe corresponderia.
As interpretações sobre a criação em Genesis são variadas, e a história de Lilith é apenas mais uma.
Contudo, ao longo dos séculos as civilizações viam na submissão da mulher ao homem como a normalidade divina e natural, e atribuíam à independência feminina um carácter pecaminoso e irregular.
Felizmente com o evoluir da Humanidade e com os avanços da ciência, a mulher iniciou uma viagem, ainda longe de terminar, para recuperar a igualdade original.
A ciência provou que a capacidade da mulher é idêntica à do homem, e se o contributo das mulheres na história da Humanidade não é maior, apenas se deve à negação de direitos e ao estereótipo do ‘sexo fraco’.
No último dia 11 de Fevereiro, o mundo comemorou pela sexta vez o Dia Internacional das Mulheres e Meninas na Ciência.
Este dia nasceu duma constatação da ONU: a ciência possuía um grande défice participativo das mulheres.
Para além dum problema de igualdade de género, este é um problema no desenvolvimento global nas ciências, porque se está a desperdiçar um grande potencial de desenvolvimento científico: as mulheres.
Numa mensagem conjunta para este dia, Phumzile Mlambo-Ngcuka, Directora executiva da ONU Mulheres, e de Audrey Azoulay, Directora-Geral da UNESCO, enalteceram o alto contributo dado pelas mulheres na luta contra a COVID-19, quer no seu tratamento, quer na descoberta da vacina.
Mas apesar disso são as mulheres as mais atingidas, por via da desequilibrada balança em áreas como por exemplo o emprego e a sua renumeração, no trabalho doméstico, e nas oportunidades de acesso à ciência.
De acordo com o Science Report da UNESCO, apenas 33% dos investigadores científicos são mulheres, apesar de estas representarem 45 a 55% dos estudantes nestas áreas. A par desta realidade, as mulheres representam 70% dos trabalhadores na área da saúde e apoio social, recebendo 11 vezes menos que os homens.
É necessário quebrar o preconceito sobre as mulheres no mundo em geral e em particular nas STEM (ciência, tecnologia, engenharia e matemática).
Este preconceito vem de longe, inicialmente afastaram as mulheres da escola, depois de conquistada a possibilidade de ir à escola, foram barradas nas universidades. E quando estas já estavam nas universidades, foram ignoradas ou em casos mais extremos viram os seus trabalhos serem usurpados.
Para a história ficará para sempre o esquecimento de Rosalind Franklin e o seu inestimável contributo para a descoberta da estrutura do ADN que valeu um Nobel a Watson, Crick, and Wilkins, e como a Academia Sueca não atribui premiações póstumas, a justiça nunca será reposta.
Ou ainda Alice Ball, que descobriu um eficaz tratamento para a Lepra pouco tempo antes de falecer com apenas 24 anos. Sem ter tido a possibilidade de publicar a descoberta, foi o seu director da Universidade do Havai e também químico Arthur L. Dean que mais tarde apresentou esta descoberta ao mundo em nome próprio, ganhando as honras de ter salvado muitas pessoas até aos anos 40 do século passado.
A técnica de injecção de Alice Ball foi ainda nomeada pelo seu director como técnica de Dean. Apenas nos anos 90, a Universidade do Havai reconhecer esta injustiça, e em 2000 o governador do Havai declarou o dia 29 de Fevereiro, como o Dia de Alice Ball.
A ciência das mulheres é a ciência de todos, e forem mais aqueles que contribuem para o avanço científico, mais rapidamente se encontrarão melhorias para a vida de todos.
A todas as cientistas e futuras cientistas deste mundo, o meu obrigado!
Ricardo Neto
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