06/12/2025, 11:09 h
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OPINIÃO
Por Filipe Rodrigues Fonseca (Engenheiro Informático e Militante do Livre)
Na área de videojogos, o último ano foi marcado pelo reconhecimento de diversos jogos independentes, levando os jogos das principais empresas, como a Sony, a Nintendo e a EA, para longe dos holofotes. Este reconhecimento de jogos independentes estendeu-se para os ‘The Game Awards’ (prémio mais reconhecido na área), no qual os dois principais candidatos a jogo do ano são Clair Obscur e Silksong. Apesar dos seus orçamentos mais pequenos, os jogos criados pela paixão dos seus desenvolvedores ficam mais populares, revelando uma possível tendência do futuro da cultura.
A indústria de videojogos ficou, nos últimos anos, dominada por grandes desenvolvedores que pretendem lucrar o máximo possível. Seguem padrões já conhecidos, não correm riscos, e capitalizam ao máximo qualquer oportunidade. Com equipas forçadas a desdobrar-se para sobrar dinheiro para marketing, os jogos atuais já não trazem a alma que lhes era característica e atraía novos jogadores.

Os dois candidatos principais a Jogo do Ano têm histórias de sucesso muito parecidas. Ambos foram criados por equipas pequenas (Silksong por apenas 3 pessoas) e surgiram como projetos desenvolvidos por pessoas jovens com uma visão inovadora e apaixonados pela arte do desenvolvimento de jogos. Sem grandes expectativas ou orçamento mas com uma visão clara do que pretendiam, desafiaram a tendência atual da indústria de maximizar as receitas e minimizar o risco. Não recorreram a ferramentas como IA para agilizar o processo e, em vez disso, focaram-se em entregar a melhor experiência possível. E as pessoas valorizaram isso.
Não só a indústria de videojogos, como toda a área da cultura irá fazer este salto eventualmente. Vemos ferramentas como a IA que utilizam, sem consentimento, a arte produzida por milhares de pessoas para os seus modelos, a tentar substituir o ser humano. A mercantilização do setor cultural com foco em produção rápida e lucros pode aumentar, mas a verdadeira arte será sempre realizada com paixão e sem fins capitalistas.
As ameaças a todos os setores que a introdução de ferramentas como a robotização e a IA trazem são altamente importantes. No entanto, tal como aconteceu com os videojogos, a cultura continuará a valorizar a capacidade de inovar e a paixão que os artistas trazem às suas obras. A IA existe para facilitar tarefas que permitam ao ser humano dedicar mais tempo à arte, e nunca o oposto.
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