24/05/2025, 9:57 h
35
Opinião Opinião Politica Partido Comunista CRISTIANO RIBEIRO
OPINIÃO POLÍTICA
Por Cristiano Ribeiro (Médico e Militante do PCP)
Em dia pós-eleitoral de grave refluxo de esperança no ser humano deparei-me com uma circunstância inédita. No exercício da minha atividade profissional, neste período pós aposentadoria, na Cidade de Lordelo, deparei-me com um autêntico banho de realismo social.
Então não é que quatro cidadãos imigrantes, no caso todos de nacionalidade brasileira, foram à minha consulta com problemas de saúde reconhecíveis numa ordenação sucessiva? Então não é que esses cidadãos se mostraram expressamente gratos pela atenção e assistência prestada? Então não é que todos revelavam ter uma família, um emprego, uma preocupação com o seu rendimento salarial? Então não é que metade tinha problemas com atrasos na legalização da sua estada, na inscrição como utente do SNS, desfavorecendo-os na qualidade da assistência? Então não é que me senti parte de uma consciência universal (humanitária dirão uns, filosófica dirão outros) superior a todas as derrotas eleitorais?
Andam urubus (ou serão cães?) pairando por atmosferas eivadas de preconceitos e mentiras e aquelas almas, distintivas pelo sotaque, persistem em sobreviver em terrenos inóspitos, trabalhando com escassos direitos, numa precariedade muito frágil, num horizonte muito limitado. Cada indivíduo, cada nome, porém, a meu ver, merece mais do que a nojenta representação parlamentar da extrema direita, onde se juntaram imbecis e mentirosos.
Quando ouço o discurso racista contra os imigrantes, sinto uma raiva incontida nascida do facto de eu próprio ser filho de emigrante.
Os meus avós paternos emigraram para França na década de 30 do século passado, fugindo da fome e da má vida, viajando de comboio via Barca de Alva em terceira classe. Acompanhava-os o único filho (meu pai), nascido em 1930. O destino foi Paris, residência e fábrica em Saint Dennis. Algumas fotografias retratam a vida da escola primária, com meu pai, uma criança assinalada numa delas.
Como é possível utilizar a memória tão selectivamente, como é possível tanta insensibilidade em pessoas ditas cristãs, quão próximo estamos dos progroms do século passado?
ASSINE A GAZETA DE PAÇOS DE FERREIRA
Opinião
31/05/2025
Opinião
25/05/2025
Opinião
25/05/2025
Opinião
25/05/2025