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Gazeta Paços de Ferreira

01/11/2025, 0:00 h

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O Evangelho Segundo o Padre Martins Júnior

Cultura Religião Abílio Travessas

CULTURA

O livro O Canto do Melro, de Raquel Varela, trouxe-me uma visão diferente do que deve ser a prática da mensagem de Cristo, segundo José Martins Júnior, que exerceu o múnus eclesiástico na Madeira.

Por Abílio Travessas (Colunista e Professor aposentado)

 

O padre Mário, da Lixa, foi outro intérprete, em contra-corrente com os oficiais encartados, dos ensinamentos de Cristo, a quem o historiador, sempre interventivo na actualidade, Reis Torgal dedica um capítulo em Quatro Homens de Abril.

 

José Martins Júnior faleceu recentemente e só na RTP Madeira vi notícia e reportagem condigna. Felizmente que ainda tive a possibilidade de o conhecer aquando da apresentação do meu livro A Velha Bicicleta do Estado Novo, de que lhe fiz oferta, retribuída com O Canto do Melro e Poemas Iguais aos Dias Desiguais e dedicatórias que me deixaram tão sensibilizado e agradecido. O privilégio de conhecer este padre …como teria gostado de o ter  na paróquia de Aver-o-Mar, numa igreja e seu largo de tantas missas e aventuras, de tanta doutrina papagueada sem sentido! Só um monge, frade?, de que Ordem não sei, surgido para sermonear pela Páscoa, nos deu a alegria e surpresa de jogar à bola connosco, me trouxe pequeno relâmpago dum clérigo diferente. Não esquecerei a sotaina preta, sandálias em pés nus, simplicidade gravada na alma e na memória.

 

 

 

 

Tenho, ultimamente, aprendido muito sobre os primeiros tempos do cristianismo, uma interpretação mais cuidada da religião que nos moldou a vida; o padre Martins veio mostrar outra visão de como deve ser olhado Cristo. Aqui deixo alguma da sua prática, de acordo com o livro de Raquel Varela.

 

- Os vivos não devem viver atados às leis dos mortos. Lembras-te daquela vez em que até o caixão caiu ribanceira abaixo porque a vereda era estreita para dois homens passarem com o defunto? (defendendo a construção da estrada para a vila e hospital no Funchal).

 

- Recusou-se a benzer o estandarte do Batalhão quando foi mobilizado para a guerra colonial.

 

- Decidiu abandonar a confissão auricular privada. “Falem com Deus, directamente, sem intermediários. (castigado foi enviado para Porto Santo. Suspenso a divinis, sem julgamento, continuou a exercer, por ordem do povo, casamentos, baptizados, funerais).

 

- Palavras que usava num funeral: “Nunca faço a geografia do além-túmulo. Interessa o que as pessoas fizeram em vida, é isso que conta no juízo final.

 

- “Se Deus aceitasse prendas, missas, ofícios, dinheiro para dar uma sentença favorável, seria o juiz mais corrupto da história”.

 

- A Igreja é uma hierarquia de homens vestidos de saia.

 

- Sòzinhos não existimos, o isolamento quebra-nos.

 

- “Se eu aceitasse a confissão ficava a conhecer a intimidade desta gente, os seus segredos. Que poder que isso me dava sobre elas! Nunca!” (acabou com os falsos pecados capitais nas suas missas e aboliu a confissão).

 

- Em vez de “Confesso que pequei muitas vezes” – Confesso que errei muitas vezes!

 

- Porque havemos de ter vergonha de falar daquilo que Deus não teve vergonha de criar?

 

 

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