perante uma situação, em que famílias e empresas se vêm esmagadas com o aumento generalizado de todos os bens, assistir aos sucessivos aumentos de taxas de juros com justificações da solidez dum pudim, enquanto os bancos se exibem na praça com abastados lucros, apenas me vem à cabeça a palavra ganância, tão bem retratada na estória do camponês Pahóm, escrita em 1886 por Tolstoi.
Ricardo Neto
Dante ao descrever os vários círculos do inferno, chamou ‘colina da rocha’ ao quarto nível! Nela habitam todos os avarentos e gananciosos, que têm como castigo o constante empurrar de barras de ouros equivalentes às suas riquezas terrenas acumuladas.
Se o pecado capital da ganância for uma realidade similar à descrita por Dante Alighieri, então Christine Lagarde e todos os seus acólitos da banca europeia, carregarão pela eternidade colossais blocos de ouros…
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Podem pensar que estarei a exagerar, mas perante uma situação, em que famílias e empresas se vêm esmagadas com o aumento generalizado de todos os bens, assistir aos sucessivos aumentos de taxas de juros com justificações da solidez dum pudim, enquanto os bancos se exibem na praça com abastados lucros, apenas me vem à cabeça a palavra ganância, tão bem retratada na estória do camponês Pahóm, escrita em 1886 por Tolstoi.
Pahóm era um simples camponês, e certo dia, depois de ouvir uma discussão sobre a vida citadina da cunhada, e a vida do campo da sua esposa, murmurou junto à lareira, que o seu único problema era não ter a terra que ele queria, porque se a tivesse, nem o diabo lhe meteria medo… Sem ele saber, na mesma sala estava o próprio diabo, que adorou o que escutou, e pensou para ele: ‘’ Vamos lutar um com o outro; dou-te toda a terra que quiseres e há-de ser por essa terra que te hei de apanhar’’.
No dia seguinte, uma senhora proprietária dum grande terreno decidiu vendê-lo, e apesar dos agricultores da comuna terem tentado unir-se para comprar o terreno em conjunto, o diabo lançou a discórdia, e cada um individualmente comprou uma parte.
Pahóm comprou uma boa parcela, e teve de fazer grandes sacrifícios. Mais tarde e farto da terra e dos problemas que tinha com a vizinhança, ouviu falar em terras mais longínquas a bom preço, vendeu tudo, e foi comprar novas terras!
A vida de Pahóm progredia, tinha mais terras para cultivar e para arrendar, mas ele queria mais, muito mais!
Um dia recebeu um comerciante em casa que lhe falou dos Baquires, donos de terras sem fim, que ao serem agraciados com bons presentes, ofereciam terras à escolha a muito bom preço.
Pahóm entusiasmado partiu para as terras dos Baquires. Chegado lá, encheu-os de oferendas e fez-se amigo deles. Os Baquires ficaram a gostar dele, e perguntaram o que ele queria, e Pahóm de pronto mostrou-se interessado em terras! Então o chefe Baquire disse que bastaria apontar o dedo para a terra que ele desejasse, e essa seria sua! Pahóm radiante perguntou pelo preço, e o chefe disse:
- O nosso preço é sempre o mesmo: 1000 rublos por dia!
Esta resposta deixou o camponês confuso, e então o chefe explicou que ele pagaria a maquia pedida, e quando o sol nascesse, ele sairia a pé, e marcaria os limites do terreno, tendo de voltar ao mesmo ponto, antes do sol se pôr. O terreno marcado seria dele!
Pahóm ficou felicíssimo, as terras eram excelentes e o preço ainda melhor.
No dia seguinte, antes do sol nasceu, Pahóm e os Baquires estavam no ponto combinado. O sol nasceu, e Pahóm colocou o dinheiro no chapéu do chefe, que estava pousado no chão, e partiu. Com a pá ia fazendo um terrão aqui e ali, e a sua marcha prosseguia. O sol estava forte, e o sono também, depois de uma noite mal dormida onde vira o diabo. A cada passo dado, mais um pouco de terra lhe parecia imperdível… e assim continuou, até se aperceber que o sol estava a cair, e ele… longe demais!
Começou a correr, a correr, e de repente deixou de ver o sol, e pensou que perdera tudo, caindo no chão… mas os Baquires fizeram um gesto para ele vir, porque onde eles estavam, ainda se via o Sol, levantou-se e em grandes dificuldades, desatou a correr, e no último raio de Sol, Pahóm caiu e agarrou o chapéu!
- Grande homem! A terra é dele! – exclamou o chefe Baquire. Ao vê-lo imóvel, o criado de Pahóm socorreu-o, e ao tocar-lhe viu que ele estava morto! O seu criado pegou na pá e enterrou-o na sua nova terra…
No Banco Central Europeu, Pahóm não é um camponês, veste roupa cinzenta, e apesar de não ser eleito pelos povos europeus, decide que ‘terras’ comprar, e o preço também é sempre mesmo: o sofrimento diário dos mais pobres!
Na Europa, Pahóm parece ter feito um pacto com o próprio diabo, a troco de vidas difíceis e sofridas, a pornografia dos lucros faz o diabo rejubilar de contentamento, enquanto compra mais terras para adicionar a ‘colina da rocha’, o inferno dos gananciosos, que receberá no futuro muitos clientes!